Writing, Flying and Huevos Revueltos

August 31, 2006

A triste história do padre Voador

Bartolomeu Lourenço de Gusmão nasceu em 1685 em Santos. Mostrou desde jovem interesse pelo estudo da física. Teve sua primeira invenção em 1707, com 15 anos; o alvará (23 de Março de 1707) foi a primeira patente garantida a um inventor brasileiro em pleno período colonial. Infelizmente não são conhecidos desenhos nem esquemas do modelo construído.

Em 1701, com 16 anos, partiu para Portugal p/ estudar. Volta p/ o Brasil em 1705, e embarca de novo para Coimbra em 1708, já ordenado sacerdote, p/ continuar seus estudos de Física e Matemática. Nesse ano trabalha no projecto de um engenho “mais-leve-que-o-ar”. Consta que ao observar uma pequena bola de sabão pairando no ar, se inspirou para a concepção de um balão cujo alvará foi-lhe concedido em 19 de Abril de 1709. Em 8 de Outubro do mesmo ano, Bartolomeu de Gusmão teve êxito absoluto na sua experiência, a notícia se espalhando rapidamente pela Europa e ele ganhando a alcunha de “O Voador”.

Em setembro de 1724 foge de Lisboa adoptando o nome falso de Miguel Santos, pois tinha sido denunciado ao Tribunal do Santo Ofício como apóstata judaizante, devido à sua amizade com cristãos novos brasileiros vigiados pelo Santo Ofício. Após dois meses em fuga, doente com febre, morreu em 18 de Novembro, no Hospital da Misericórdia, em Toledo, Espanha, aos 38 anos de idade, na mais completa miséria.

Fonte: Instituto dos Arquivos Nacionais da Torre de Tombo

August 29, 2006

Estes olhos que matam....


Em 1999, Bette Davis foi considerada, pelo American Film Institute, a segunda melhor atriz de todos os tempos. Li isso no site oficial dela. A minha surpresa foi descobrir que a primeira melhor atriz de todos os tempos é Katherine Hepburn. Surpresa, porque eu amo as duas e descobrir que são consideradas as melhores foi refrescante.



August 28, 2006

Katharine Hepburn "Madwoman Of Chaillot" 1969


August 27, 2006

My list of unforgettable movies - meus filmes inesquecíveis

Não, eu não fiz esta lista agora não porque eu tenho outras coisas mais úteis p/ fazer na vida!! .... mas fiz um Ctl+ c e um Ctl+ v numa listinha que fiz no curso de comunicação do prof. Charles Perraton (muito bom!) sobre filmes. Mas é evidente que eu não assisti todos estes filmes num curso só... alguns, assisti quando criança (Nosferatu, Couraçado Potemkim, Metropolis, Luzes da Cidade, Tempos Modernos, O Menino dos Cabelos Verdes, Ladrão de Bicicletas, etc...) e a maioria eu já tinha assistido no passar dos anos (alguns filmes dos anos 40, 50 e 60 que passavam na "Sessão da Tarde", lembram? ou nos sábados à noite em "Première Mundial"...). Mas, enfim, o curso do professor Perraton foi muito bom, e nesta época tive que fazer a tal lista dos melhores filmes que já tinha visto e de outros que eu deveria assistir. Enquanto ia assistindo alguns, muitos deles iam sendo retirados da lista e é claro, acrescentados uns outros tantos.

Bom, o resultado final foi esta lista aí; os que estão em escuro, são mais inesquecíveis do que os outros inesquecíveis...

Kobayashi, por seu trabalho em Kwaidan, e Carl Dreyer, pelo conjunto de sua obra cinematográfica, estão, na minha humilde opinião, encabeçando esta listinha. O primeiro eu descobri graças à um vizinho que era bombeiro e amante de cinema (um dia, depois de uma conversa na escada do apartamento dele, ele veio bater a porta da minha casa e insistir p/ que eu visse este filme inesquecível); Dreyer, eu descobri numa noite de insônia e não deixei nunca mais de procurar seus trabalhos. Mas Andrei Tarkovsky, sobretudo por Andrey Rublyov que eu descobri no defunto Ouimetoscope da rua Sainte Catherine, merece mon très grand respect.

Descobri Maya Deren através de um estudante, lindo, sensível e talentuoso, em Artes que tinha vindo de Sarjevo e que estava ficando louco; a última vez que o vi, ele já estava completamente louco!


  • Leaves from Satan’s Book (1919), d. Carl Theodor Dreyer
    Nosferatu (1922), d. F.W. Murnau
    Mikaël (1924), d. Carl Theodor Dreyer
    Master Of The House (1925), d. Carl Theodor Dreyer
    Strike (1925), d. Sergei Eisenstein
    The Gold Rush (1925), d. Charles Chaplin
    Battleship Potemkin (1925), d. Sergei Eisenstein
    Metropolis (1927), d. Fritz Lang
    The Passion of Joan of Arc (1928), d. Carl Theodor Dreyer
    Vampyr (1931), d. Carl Theodor Dreyer
    City Lights (1931), d. Charles Chaplin
    Queen Christina (1933), d. Rouben Mamoulian
    L'Atalante (1934), d. Jean Vigo
    Modern Times (1936), d. Charles Chaplin
    Une Partie à la Campagne (1936), d. Jean Renoir
    La Grande Illusion (1937), d. Jean Renoir
    La Bete Humaine (1938), d. Jean Renoir
    Wuthering Heights (1939), d. William Wyler

    Rebecca (1940), d. Alfred Hitchcock
    Citizen Kane (1941), d. Orson Welles
    Day of Wrath (1943), Carl Theodor Dreyer
    Meshes of the Afternoon (1943), d. Maya Deren
    La Belle et la Bête (1946), d. Jean Cocteau
    The Postman Always Rings Twice (1946), d. John Garfield
    The Boy with Green Hair (1948), d. Joseph Losey
    Rope (1948)., d.
    Alfred Hitchcock
    The Bicycle Thief (1948), d. Vittorio DeSica
    Diary of a Country Priest (1950), d. Robert Bresson
    All About Eve (1950), d. Joseph L. Mankiewicz
    Sunset Boulevard (1950), d. billy Wider
    A Streetcar Named Desire (1951), d. Elia Kazan
    Rashomon (1951), d. Akira Kurosawa
    Seven Samurai (1954), d. Akira Kurosawa
    Ordet (The Word) (1954), d. Carl Theodor Dreyer
    The Night of the Hunter (1955), d. Charles Laughton
    Les Diaboliques (1955), d. Henri-Georges Clouzot
    The Seventh Seal (1957), d. Ingmar Bergman
    Wild Strawberries (1957), d. Ingmar Bergman
    The Very Eye of Night (1958), d. Maya Deren
    Vertigo (1958), d. Alfred Hitchcock
    The Brothers Karamazov (1958), d. Richard Brooks
    Orfeu Negro (1959), d. Marcel Camus
    A Bout de Souffle (1959), d. Jean-Luc Godard
    La Dolce Vita (1960), d. Federico Fellini
    Psycho (1960), d. Alfred Hitchcock
    Rocco e i suoi fratelli (1960), d. Luchino Visconti
    Viridiana (1961), d. Luis Bunuel
    Eve (1962), d. Joseph Losey
    To Kill a Mockingbird (1962), d. Robert Mulligan
    What Ever Happened to Baby Jane ? (1962), d. Robert Aldrich
    The Servant (1963), d. Joseph Losey
    Il Gattopardo (1963), Luchino Visconti
    Kwaidan (1964), d. Masaki Kobayashi
    Il Vangelo secondo Matteo (1964), d. Pier Paolo Pasolini
    Marnie (1964) , d. Alfred Hitchcock
    Hush... Hush, Sweet Charlotte (1964), d. Robert Aldrich
    Gertrud (1965), d. Carl Theodor Dreyer
    Repulsion (1965), d. Roman Polanski
    Belle de Jour (1967), d. Luis Bunuel
    Rosemary's Baby (1968),d. Roman Polanski
    Teorema (1968), d. Pasolini
    Andrey Rublyov (1969), d. Andrei Tarkovsky
    The Madwoman of Chaillot (1969), d. Bryan Forbes
    The Beguiled (1971), d. Don Siegel
    The Go-Between (1971), d. Joseph Losey.
    Il Decameron (1971), d. Pasolini
    Morte a Venezia (1971), d. Luchino Visconti
    The Godfather (1972), d. Francis Ford Coppola
    Aguirre: The Wrath of God (1972), d. Werner Herzog
    Amarcord (1973), d. Federico Fellini
    The Godfather - Part II (1974), d. Francis Ford Coppola
    Il Casanova (1976), d. Fellini
    Novecento (1976), d. Bernardo Bertolucci
    The Shining (1980), d. Stanley Kubrick
    Pink Floyd The Wall (1982), d. Alan parker
    Blade Runner (1982), d. Ridley Scott
    Birdy (1984), d. Alan parker
    Ran (1985), d. Akira Kurosawa
    A Chinese Ghost Story (1987), d. Siu-Tung Ching
    Angel Heart (1987), d. Alan Parker
    The Navigator (1988), d. Vincent Ward
    Dante's Inferno (1989), d. Tom Phillips, Peter Greenaway
    The Cook, the Thief, His Wife & Her Lover (1989), d. Peter Greenaway

    Bethune: The Making of a Hero (1990), d. Phillip Borsos
    Fresa y Chocolate (1990), d.Tomás Gutiérrez Alea, Juan Carlos Tabío
    A Chinese Ghost Story II (1990), d. Siu-Tung Ching
    A Chinese Ghost Story III (1991), d. Siu-Tung Ching
    Prospero's Books (1991), d. Peter Greenaway

    The Piano (1993) , d. Jane Campion
    The Bride with White Hair (1993), d. Ronny Yu Yan-Tai
    The Pillow Book (1996), d. Peter Greenaway
    Twin Falls Idaho (1999), d. Michael Polish
    The Sixth Sense (1999), d. M. Night Shyamalan
    Unbreakable (2000), d. M. Night Shyamalan
    Songs From the Second Floor (2000), d. Roy Andersson
    In the Mood for Love (2000), d. Wong Kar Wai
    Spider (2002), d. David Cronemberg
    Le Silence de la mer (2004), d. Pierre Boutron





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August 23, 2006

Fotos dos dois Jacks: London e Kerouac

Anjos perdidos: livros, Jack Kerouac, Jack London e outros


Antes de Kerouac, eu tinha descoberto Jack London.

Durante algum tempo, eu venerei Jack London. Comecei lendo ele na biblioteca de Barra Mansa, aquela salinha raquítica que eu já tinha revirado de ponta à rabo mas que era tão pobremente insuficiente p/ a minha sede... Depois venerei ele durante algum tempo, na minha adolescência quando fui atrás de seus livros na biblioteca da AMAN (ahahaha... a biblioteca da AMAN era muito boa mesmo!) e li tudo que me caiu nas mãos. Sempre achei que Kerouac fosse herdeiro de London e inclusive, eles são fisicamente parecidos em algumas fotos - incrível! É desta imagem que me recordo num dos livros de London da minha adolescência: ele em cima de um barco, escrevendo, roupas de couro, cabelos ao vento-.
De London, me vem a memória de Kipling e James Joyce. Com eles, tranquilamente, vieram vindo os outros mais.

Um dia o Ricardo me apareceu lá em casa com o "On the Road" embaixo do braço p/ presente. Porquê? Não me lembro. Talvez porque eu vivia viajando e fazendo planos p/ futuras viagens, querendo saber o que existia do outro lado do muro, com uma sede e vontade de dizer 'sim' à tudo. Não sei. Amador de cinema, foi também Ricardo quem me apresentou à obra de Fassbinder no tempo que só tinha Fassbinder no Instituto Goethe. E ele me explicava tudo. Eu tinha 18 anos e aquilo tudo era tão encantador, novo, sedutor e profundo que me senti irremediavelmente subjulgada pelo mundo descrito no "On the Road" à ponto de começar à encontrar pela frente na minha vida algumas figuras parecidas sair direto de lá. Encontrei em Porto Alegre um digno herdeiro dos Beat, que fazia parte dos que se chamavam Darks na época e se vestiam com aquelas roupas negras e elegantes de Berlim, louros e bonitos, com os sapatos grandes de pontas quadradas que eu só encontraria em Montreal alguns anos depois....

Mas a Beat Generation me deixou um gosto inesquecível dos The Subterraneans na boca e na mente. Eu amei este livro e quando cheguei em Montreal, ele estava no fundo do meu pensamento, sobretudo quando eu observava aquele pessoal jovem que se instalava na estação do metrô de Santa Maria -a mesma desilusão... e mais ainda, tinha o jazz, tinha o inverno frio e as noites nebulosas através da cidade sonolenta de neve-. E eles tinham a minha idade. E eu era mais jovem do que Jack Kerouac quando ele, bêbado do amor de uma deusa cigana negra, escreveu este livro em 1958; é totalmente uma obra sobre o amor, descrevendo uma relação que foi sendo detalhada intimamente desde a descoberta do início e as surpresas do fim que ia se anunciando. O título do livro ficou sendo Os Subterrâneos graças à Allen Ginsberg, que descrevia os personagens, reais, do romance nestes termos:…"They are hip without being slick, they are intelligent without being corny, they are intellectual as hell and know all about Pound without being pretentious or talking too much about it, they are very quiet, they are very Christlike[…] ".

Uma pequena pausa: a primeira vez que ouvi o nome Kerouac em francês, eu estava no Cheval Blanc com a turma do François, todos amantes de jazz, e não entendi que Jo estava falando de um dos meus escritores preferidos simplesmente porque como boa brasileira, eu repetia a pronúncia errada dos anglófonos que têm um sotaque horrível quando falam francês. Não que eu seja excelente em francês, mas realmente existe uma grande diferença nas duas pronúncias. Mas geralmente, os anglófonos que sabem que é um nome francês e mesmo se não falam a língua, procuram a pronúncia mais perto possível da original. A gente diz o nome exatamente assim, devagar e em 4 sílabas, a última sendo mais rápida do que a penúltima: ke-rru-aaa-ki.
Isso tudo porque muita gente não sabia ou preferiam ignorar achando que fosse um simples detalhe -ao menos no Brasil na época em que eu morava lá e lia os livros em português e nunca li referência à sua origem- que a família de Kerouac veio do Québec, eram canadenses franceses. Ele se chamava Jean Louis Lebris de Kerouac.
Embora eu não seja conhecedora profunda da obra de Kerouac, acho que todos os que são deveriam vir aqui p/ observar o comportamento social p/ poder entender as raízes desta pequena comunidade francófona de Lowell na época. Não entrarei demais no assunto, mas eu poderia quase jurar que no sangue da família Kerouac, como no sangue da maioria dos canadenses de origem francesa, tem sangue índio. Sem falar que aqui mesmo nos deparamos frequentemente com muitos tipos físicos parecidos com os de Kerouac (os canadenses franceses têm esta característica de serem bonitos, muito bonitos mesmos com estes profundos olhos azuis de lobos de mar - descendência gaulesa obriga). Inclusive com os olhos em amêndoas (como minha filha e o pai dela), característicos dos indígenas embora eles sejam de raça branca. Acho que a personalidade de Kerouac e sua necessidade de verdade, espiritualidade e liberdade, é em grande parte devedora destes antepassados autóctones.

E depois? bom, à partir de Kerouac, cheguei à John Fante e "Arturo Bandini", Ginsberg, William Burroughs, Antonin Artaud, Andre Breton, poetas obscuros japoneses antiquíssimos, Rimbaud, Baudelaire, Jean Genet, Keats... -eu já amava Byron- e Percy Shelley, alguns poemas de Walt Whitman e os contos de Edgar Allan Poe, e outros, muitos outros... Isso só aumentou a minha fome.

Mas a figura central e que foi a base p/ a existência do movimento Beat, inspirador de obras marquantes na literatura através da pluma de John Clellon Holmes, Jack Kerouac, Allen Ginsberg e muitos outros, foi Neal Cassady, sem o qual o movimento Beat jamais existiria. Seu estilo espontâneo de escrita nas trocas de correspondência com os amigos, inspirou Kerouac à inventar a noção de prosa espontânea.

Bonito, selvagem, olhar cândido de uma alma sofrida, Neal Cassady foi educado por um pai alcoólatra em hotéis de beira de estrada e vagões de trem. Tendo vivido grande parte de sua juventude em escolas reformatórias e prisões, ele desenvolveu instintos suaves de um ilusionista na pele de um ladrão de carros com uma habilidade original para seduzir pessoas através da sua enorme fome de amor e de vida, e pelo temperamento tão angelical quanto demoníaco. Mas um demoníaco profundo, silencioso, espiritual, atormentado e sedutor. Como pode-se ser tudo isso ao mesmo tempo é a base do enígma Neil Cassaday. Para Kerouac, ele era um anjo perdido.

Diziam que ele nunca tinha tempo de escrever nada porque estava ocupado demais em viver. Relacionando-se com várias mulheres e tendo alguns filhos, Cassaday viveu uma relação "oficial" e um pouco mais duradoura com Carolyn, que também foi durante um curto período de tempo amante de Kerouac formando os três um menage à trois tão atormentado quanto obscuro.

Encontrado desmaiado ao lado das trilhas de trem uma manhã e levado às pressas ao hospital em estado de coma, Neil Cassaday morreria algumas horas mais tarde, em 1968. Kerouac viria à morrer um ano depois.


"He was simply a youth tremendously excited with life, and though he was a con-man, he was only conning because he wanted so much to live and to get involved with people who would otherwise pay no attention to him. He was conning me and I knew it, and he knew I knew (this was the basis of our relationship)." --- On the Road, pg. 4

"Have you ever seen anyone like Cody Pomeray?-- a young guy with a bony face that looks like it's been pressed against metal bars to get that dogged look of suffering... who walks as fast as he can go on the balls of his feet, talking excitedly and gesticulating... There are some young men you look at who seem completely safe, maybe just because of a Scandanavian ski sweater, angelic, saved; on Cody Pomeray it immediately becomes a dirty stolen sweater worn in wild sweats." --- Visions of Cody, pg. 48



K.
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August 22, 2006

Por isso eu vou p/ a Califórnia... ou p/ Markham

Tá bom, estou esperando alguém me ligar no skype e ao mesmo tempo assistindo um documentário sobre o The Edible Schoolyard de Berkeley na Califórnia, e tive que escrever este post porque o laptop está aqui no meu colo e eu estou achando este documentário incrivelmente interessante à ponto de sonhar com a vida em Berkeley, a linda e poética Berkeley dos Beats de Jack Kerouac, antepassados da geração hyppie e dos Darks. Enfim, a Berkeley das idéias revolucionárias e deste programa que ensina aos estudantes do nível ginasial à compreender os diferentes ciclos dos alimentos desde o plantio até o preparo da comida, fornecendo p/ os sortudos, um verdadeiro jardim orgânico e uma cozinha toda equipada como sala de aula.
Respeitando princípios de ecologia, os estudantes aprendem como plantar, colher e preparar os produtos de cada estação, aprendem o valor nutritivo de cada alimento junto com diferentes receitas e a importância de não se usar produtos químicos, etc.. Pelo o que vejo, as experiências na cozinha e no jardim promovem uma melhor compreensão de como o mundo natural nos sustenta... e fico eu aqui sonhando, querendo ir p/ a Califórnia porque lá as coisas dão certo, sonho, e porque eles têm grama como as casas de Markham que eu fico namorando....
me ligaram....



K.
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Porque brasileiro tem obsessão com a Orkut?

Tá bom, já que vários de vcs me perguntaram, eu respondo... eu prefiro este sistema. Mas como vcs perceberam, respondo através do blog.

Assunto que faz aflorar reações apaixonadas, e eu, centro do universo p/ mim mesma, vou ser mais uma vez chata, e assumo, mas estou recebendo muito esse tipo de e-mail. Então vai aí o meu pedido: queria pedir ao pessoal de parar de me convidar p/ Orkut. Eu não gosto da Orkut! Desculpem-me a franqueza, mas acho Orkut um porre. Não gosto meeeeeeesmo. Sei que tem coisas interessantes em algumas comunidades, mas tem-se que escolher à pente fino.
Uma vez caí na besteira de pedir ao meu irmão p/ me convidar, e descobri o que é um verdadeiro assédio de besteiras de gente que aparentemente não têm nada à fazer na vida. Fiquei 2 dias, e saí correndo.

Sei que têm pessoas inteligentes que fazem parte de uma ou outra comunidade da Orkut, algumas que eu conheço pessoalmente mas de quem não escondo minha opinião. Como assumo todas minhas contradições, pode até ser que mude de idéia um dia, numa boa. Mas no momento não dá. Gosto mesmo é de conversa cara à cara, rir alto, ver na hora a expressão facial da pessoa que me fala... para mim esse negócio de ficar enfurnada num computador falando horas à fio é perca de tempo e de vida.

No meu blog eu escrevo quando tenho tempo sobrando entre um trabalho com vídeo ou um texto que estou escrevendo. Normalmente, é porque sou mesmo obrigada à esperar aqui na frente da máquina alguma outra coisa terminar, além de ser p/ mim um exercício muito bom o fato de escrever em português pois eu tinha já perdido a prática através dos anos e minha ortografia estava sofrendo bastante. Gosto de ter um blog e de me exprimir através dele, mas isso é só um pequeníssimo capítulo, e espero que permaneça assim pois acho muito doentio quem vive horas num computador se não for por exigência das condições de trabalho. Imagino que algumas pessoas acabam só se comunicando se for através de uma máquina... isso é muito estranho mesmo p/ mim que tem um mestrado em comunicações multimídias, simplesmente porque eu me nego terminantemente à me exprimir só por meio de interfaces humano/máquinas. Trocas humanas, intelectuais e reforçadas pelo contato do calor, da pele e do odor do outro são muito mais interessantes (muito embora eu esteja também de acordo com Sartre).

Então, voltando ao assunto da Orkut, não sei porquê recebo uma porção de convites pessoais, da maioria de brasileiros que frequentam o meu blog, outros de desconhecidos, e alguns entre os quais já trocamos correspondência, p/ eu integrar tal e tal comunidade virtual. Se fosse uma de vez em quando, tudo bem. Mas a coisa pulula no meu correio eletrônico como xuxu em cerca! Acho isso tudo muito revelador sobre a personalidade do povo brasileiro. O que vcs dizem, vcs que são inteligentes e que me lêm frequentemente e que já estão acostumados com a minha franqueza e falta de piedade com a esquisitice humana? Tenho certeza que deve existir alguém analisando este fenômeno, o que daria certamente uma tese, socialmente falando, muito interessante à ler se for um trabalho honesto. Eu tenho cá as minhas explicações, mas tenho que explanar isso com tempo e diplomacia, senão vou ofender muita gente sem ser minha real intenção.


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August 20, 2006

Restaurantes/ botecos/ congêneres em Montreal: cappuccino e sanduíche de prosciutto no Café Italia, na Petite Italie

Ontem, acordamos tarde e zapamos p/ o Café Italia, na Petite Italie. É simples: final de semana batemos perna o tempo todo e o Café Italia assim como o Marché Jean Talon fazem parte da nossa agenda quase semanal. Isso foi, digamos, p/ o almoço, o jantar sendo no La Paryse, e depois demos um pulo p/ comer a sobremessa do Le Commensal.

Estou aproveitando a chuva p/ escrever no blog, então aí vai rapidamente sobre cada um deles: sou uma pessoa fiel e quando gosto de um lugar, frequento com assiduidade. O Café Italia eu conheço do tempo do Gino, que há alguns anos atrás pegou seus pênates e voltou p/ sua terrinha. Hoje em dia tem alguns empregados principais e sei de olho quem é que faz o melhor cappuccino e quem faz o melhor sanduíche. Não vou dar a dica p/ não encher de sapo pois já disse, sou fiel, mas posso aconselhar uma coisa: em Montreal, evite tomar café em lugares caros porque são geralmente ruins. O melhor café de Montréal esta na área da rua St-Laurent, e um destes lugares é o Café Italia, uma verdadeira instituição italiana daquelas dos velhos tempos, tipo boteco de encontro de mafiosi mas que virou cool e agora é frequentado por gente que quer aparecer. Isso muito embora os velhinho italianos continuem lá, felizmente, porque senão não teria graça, e ficam sentados no banco em frente da porta, do lado de fora, ou lá dentro, sempre olhando p/ a bunda e peitos da mulherada que passa na calçada.

O lugar agora é frequentado, além dos italianos do bairro, por estudantes, artistas, intelectuais e infelizmente, turistas! (poucos, graças à Deus!) Só não vou falar mais porque sempre gostei do ambiente não invadido por gente que não sabe apreciar nem um bom cappuccino nem um bom sanduíche de prosciutto feito pelo Peter, o do narigão. Se vc é desses, favor s'abstenir e vá aparecer num dos restaurantes da Saint Laurent perto da Sherbrook.


K.
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Restaurantes/ botecos/ congêneres em Montreal: La Paryse - melhor hamburger de Montreal ou do mundo?


Tá bom, segundo o prometido p/ muita gente, vou falar mais de lugares interessantes de Montreal. Ontem a gente foi comer na La Paryse porque tinha alguém querendo comer hamburger. É um lugar muito bom p/ se jantar em geral, se vc estiver à fim de comer esse tipo de comida, que não chega à ser fast-food, digamos, é um fast-food mais chique, e mais gostoso (dizem). É um Cafe também, e vc pode ir p/ tomar uma cerveja, ou simplesmente, um hamburger. Segundo o pessoal que come carne e os conhecedores em geral, é o melhor hamburger de Montreal e um dos melhores do mundo!!! Pois é, dizem que é verdade.
Eu não como nem nunca comi carne, mas sou a única que conheço, todos os meus amigos e familiares sendo carnívoros dos bons... Sei que no La Paryse têm escolhas entre tipos de queijos e carnes... enfim, vc escolhe como quer comer o seu hamburger (cream cheese ou blue cheese, por exemplo). As batatas fritas são gostosíssimas. E o ambiente também.

É um dos lugares aonde vc deve passar quando vier em Montreal pois faz parte da história da cidade, já está encravado nela. Conheço o lugar há mais de 17 anos, e já comi lá com muita gente, acompanhando os hamburgers de muita gente boa, depois de um espetáculo na rua Saint Denis, ou no Festival de Jazz, Place des Arts, etc, porque é um lugar perto de tudo, no caminho de teatros, cinemas, salas de espetáculo, etc. E foi sempre um lugar cheio de gente e com um ambiente e clientela interessantes, de vez em quando com muitos estudantes, outras vezes com artistas apressados, o pessoal do cinema, do curso de comunicação e do teatro. Tem cheiro de gordura, mas não chega à incomodar pois o ambiente e o serviço são agradáveis, principalmente se vc está com amigos bebendo uma cervejinha gelada no verão (muito embora eu não seja das melhores fãns de cerveja, existe exeções p/ um fim de tarde depois de termos trabalhados como loucos num projeto difícil....).

Endereço : 302 Ontario leste, pertinho da St-Denis (Metrô Berri-UQAM ou Sherbrooke). Tel. : (514) 842-2040

K.
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Blogs portugueses

Está caindo um aguaceiro descomunal lá fora e isso faz aflorar em mim aquela nostalgia dos momentos tranquilos e profundos que vêm sempre, ou quase sempre, acompanhados de uma florissante energia creativa. Gosto destes momentos. Assim como gosto de ler os blogs portugueses. E eu estava lendo um mesmo neste momento quando pensei que vivo deixando p/ depois a oportunidade de dizer aqui o quanto eu admiro os blogs portugueses que encontro na rede, pois na minha opinião, é em definitivo o conjunto dos blogs mais interessantes com os quais nos deparamos nestas esquinas virtuais, sobretudo se falamos de cultura em geral, arte contemporânea e literatura em particular, sobretudo literatura. Em uma palavra, cultura informativa de boa qualidade.

Pessoalmente, eu vejo uma poesia imensa na expressão escrita portuguesa e, muitas vezes, essa característica me faz pensar à Guimarães Rosa e à região do Gerais baiano. Morei nesta região e sei do que falo, e sei também que o palavreado de Guimarães Rosa era característico desta região antes da chegada da rede Globo, palavras só encontradas no dicionário e utilizadas poeticamente e de forma específica.

Enfim, nós brasileiros perdemos muita coisa ignorando, e muitas vezes desprezando, a cultura portuguesa. A cultura e os indivíduos. Digo isso porque como é de conhecimento geral, existe no brasileiro um culto à uma pretensa ignorância portuguesa. Isso é muito triste porque deixa os brasileiros atarracados à uma incapacidade de ir buscar, seriamente, prazer e trocas intelectuais com nossos ... nossos o quê? Bom, a gente trata os portugueses como se fossem nossos irmãos desconhecidos e abandonados, só não sabemos se são mais velhos ou mais jovens do que nós... mas em todo caso, deixados num cantinho da despensa p/ utilização em caso de urgência.

Enfim, eu estava lendo agora um que é de uma leitura tão agradável quanto informativa. Olhem um trecho:
"É quase impossível que quem tenha tanta coisa a dizer, diga alguma coisa de jeito. E vem isto a propósito de Juan Rulfo, um fotógrafo e escritor mexicano, que só há pouco descobri nos cafundós dos armários imensos. Ao invés dos industriais da escrita e da novela deste mundo, Juan Rulfo, discreto funcionário público do estado mexicano, com uma vida fantástica e atribulada como poucos, tinha uma única história a contar. Uma só coisa a dizer. Escreveu um livro em 1955, publicou-o e nunca mais escreveu romance nenhum, até falecer em 1986. O que tinha a dizer, disse-o ali e nunca mais abriu a boca. O seu único livro, “Pedro Páramo” é um livro fabuloso. Uma obra prima do Realismo Mágico, mas anterior a qualquer das obras do Gabriel Garcia Marquez ou do Miguel Angel Astúrias. De Pedro Páramo, uma obra pequena com pouco mais de 100 páginas, disse Borges: "Pedro Páramo es una de las mejores novelas de las literaturas de lengua hispánica, y aun de toda la literatura"Uma vez perguntaram a Juan Rulfo porque não escreveu mais nenhum romance, porquê o filho único. Respondeu, que o que tinha a dizer, disse-o ali ".


O blog em questão é TAPORNUMPORCO.

Mas tem mais outros como eu já disse e tranquilamente vou falando deles.



K.
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August 15, 2006

Bom dia glorioso!!!

August 10, 2006

Mario Quintana - Poeminha do Contra


Todos esses que aí estão
atravancando meu caminho,
eles passarão...
eu passarinho!

Mario Quintana - A Arte de Ser Bom

(dedico este poeminha ao Ciro ...)


Sê bom. Mas ao coração
Prudência e cautela ajunta.
Quem todo de mel se unta,
Os ursos o lamberão.

Liberdade p/ os animais

Tive muita msg interessante comentando o meu POST DE ONTEM. Entre elas, transcrevo aqui uma que recebi da Adriana Cunha, e que está no site Animal Freedom.

História do cão:
O cão tem provávelmente o lobo cinzento como seu antepassado. As primeiras relações comprovadas entre o lobo e o homem datam de há cerca de 10.000 a 15.000 anos. O lobo é um animal muito social; vive tal como o homem em grupos (chamados matilhas) com uma hierarquia social, na qual alguns ocupam posições de chefia. Isto faz que seja possível e desejável mantê-lo como animal de companhia, e neste caso o lobo reconhece o homem como seu superior. Então criaram-se certas exigências ao comportamento e aparência do lobo. Não se sabe ao certo se foi o homem que se acercou do lobo ou se o lobo procurou o homem. Ambos tinham vantagens da situação emergente: o lobo foi usado pelo homens na caça, ajudava a conduzir as manadas, e avisava da presença de inimigos. Por sua parte o homem garantia que o lobo tivesse sempre que comer.

Durante a Idade Média o cão foi cada vez mais apreciado pois conferia estatuto social. Desde então multiplicou se o número de raças existentes e foram criados cães em função de seleção por tamanho, comprimento, côr, forma da cabeça, comportamento e aspecto mimoso. Esta selecção continua hoje em dia a ser feita.

Hoje em dia existem cães de todas os tipos e medidas. Existem mais de 400 raças de cães. Pertencem todavia à mesma espécie, o que quer dizer que todas as raças podem ser cruzadas entre si, e podem ter descendentes férteis. Todas foram criadas pelo ser humano, isto é, ele decide quais cães serão cruzados a fim de obter as caracteristicas desejadas. O ser humano está portanto como que a brincar de Deus: "Uma cabeça um pouco mais pequena, umas patas um pouco mais curtas, e umas orelhas engraçadas".


Hoje em dia existe uma autêntica indústria canina dedicada à criação de cães e que (dis)forma estes animais conforme as intenções e exigências humanas. As consequências desta (re)criação extrema e irresponsável para os cães são muitas.

Um método muito usado pelos criadores de cães para manter e acentuar certas características das raças é o cruzamento de cães da mesma linha familiar, o que é uma forma de endogamia. Este método tem como consequência directa o aumentar das probabilidades de aparecerem erros genéticos e doenças. Assim, a selecção natural, a qual cuidaria da eliminação de animais doentes, ou pouco viáveis, é lograda, uma vez que é o ser humano se encarrega da sobrevivência do animal.


Chihuahua
Característica da raça: Uma grande cabeça,
disproporcionada em relação ao resto do corpo.
Consequência: as crias dos Chihuahuas só podem
nascer por cesariana, porque as cabeças dos
cachorros são tão grandes que tornam impossível o
parto natural. Também é comum que os ossos do
crânio não se cheguem a fundir, o que é
considerado uma característica da raça.

Pequineses
Característica da raça: focinho diminuto
Consequência: chega a acontecer em certos
exemplares os olhos cairem da órbita ocular,
porque esta não os segura bem.

Boxer
Característica da raça:focinho diminuto
Consequências: Os boxers têm mais frequêntemente
dificuldades respiratórias devido ao focinho "esmagado".

Estes são apenas uns poucos exemplos de doenças e variações desvantajosas que existem no que respeita aos sistemas hormonal, nervoso e circulatório, sanguínio, ocular, digestivo e ósseo (esqueleto) assim como certas outras deficiências imunitárias em relação directa com a criação e seleccão exagerada de cães. Dores e sofrimento constantes podem ser a consequência das decisões intencionadas a manter e fortificar certas caracteristicas específicas das raças.

Basset
Característica da raça: Dorso alongado
Consequências: acontece por vezes nos bassets
que os discos das vértebras se deslocam devido à
instabilidade causada pelo comprimento exagerado
da coluna vertebral, o que pode causar paralisia
e/ou dores constantes.

Pastores alemães
Característica da raça: ancas descaídas
Consequências: Os pastores alemães têm
frequentemente os ossos e as articulações das
ancas mal formados, o que pode provocar
paralisias e dores constantes.

Terriers
(certos tipos)
Característica da raça: mandíbulas pequenas
Consequências: Estes terriers têm um
desenvolvimento anómalo dos ossos dos queixos,
devido ao qual podem ter dificuldades na mastigação.


Se os resultados desejados não podem ser (rápidamente) alcançados pela selecção dos reprodutores, por vezes depois do nascimento são cortadas as caudas ou as orelhas, ou então ligadas ou quebradas. A seguir à proibição dos cortes das orelhas, foi também proibido após 1 de Setembro de 2001, na Holanda, o corte das caudas. A amputação sem anestesia de uma parte das patas ainda é permitido antes do quarto dia de vida (supõe-se que só depois o sistema nervoso seria capaz de transmitir dor).

A manutenção das características da raça é a prioridade. A criação de animais dotados de características saudáveis é algo de secundário. Os animais são assim vitimizados porque as pessoas acham que cães com um certo aspecto parecem mais amáveis, engraçados ou bonitos. Quase todas as raças de cães sofrem os efeitos negativos desta (re)criação selectiva com fins comerciais.

À ter em atenção: quem mesmo assim compra um cão destes, patrocina indirectamente estas práticas. Enquanto houver procura, continuará a haver oferta.

Desvantagens para o cão:
Além dos problemas fisiológicos introduzidos pelos criadores, há ainda outras consequências nocivas ao bem-estar do cão. O ser humano coloca todas as espécies de exigências ao comportamento do cão, devido às quais não lhe é possível exprimir seu comportamento natural. Quanto a estes aspectos há a contar com:

Alimentação
É o dono que decide quando, quais, e quantas
vezes, o cão recebe os seus alimentos.

Saídas a passear
O dono decide onde, quantas vezes e quanto tempo o
animal pode sair. Só pode sair quando isso convier
ao dono. Muitas vezes o animal é levado preso pela
trela, o que o limita muito nos seus movimentos.

Movimento
Acontece muitas vezes que o cão não tem em casa um
espaço adequado para se movimentar.
Por toda a parte estão móveis e obstáculos, e os
quartos já são por si demasiado pequenos. Um cão é
um animal que por sua natureza precisa muito de
espaço para poder correr e brincar.

Atenção
O cão só recebe atenção quando isso convém ao
dono. É verdade que existe uma interacção entre o
cão e o seu dono, mas se o dono não estiver
interessado, o cão é ignorado.

Comportamento social
O cão é um animal social. Está habituado a ocupar
uma posição num grupo. Quando o cão é colocado a
viver numa casa duma família, a intenção é faze-lo
automáticamente ocupar a posição mais baixa.
Nem todos os cães aceitam esta posição
naturalmente, o que dá por vezes (sobretudo com
crianças) origem a conflitos graves. O cão é de
origem um animal que vive em matilhas, num grupo
formado por elementos da sua espécie. O contacto
que tem com outros cães é muito limitado, até
porque geralmente é o único cão em casa.
Como não vive em grupo, não tem a possibilidade de
se comportar da sua forma natural, comportamento
que seria contrário ao que dele é exigido pelo
dono, e em função do qual tem de ser condicionado.
O comportamento que dele é exigido é antinatural.

Além destas desvantagens para os cães há, como é evidente, também desvantagens para os seres humanos.

Comportamento sexual
A repressão do comportamento sexual é uma parte
da educação do cão, porque este instinto natural
implica actividades que são consideradas
indesejáveis, como por exemplo o roçar-se contra
o corpo das pessoas, expressões de excitação e o
perseguir doutros cães. A castração e a esterilização
são comuns, para evitar que inesperadamente
apareçam crias. Uma outra razão é para reprimir
a excitação sexual, que geralmente é considerada
indesejável e causa de embaraços.
Existe, é claro uma relação interactiva entre o
cão e o homem, mas trata-se sobretudo duma
direcção única, o homem possui o animal, e é ele
que dirige e decide. Embora muita gente tenha as
melhores intenções quanto ao seu cão, não deixa
de ser o ser humano que por fim obriga o cão a
aceitar a sua vontade. O cão é obrigado a sofrer
restrições em quase todos os seus comportamentos
e necessidades, e é obrigado a sujeitar-se às
"necessidades" humanas. No seu habitat natural o cão
é também disciplinado pela sua posição na hierarquia do
grupo. Mas vivendo com o homem a sua sujeição é
extrema. Um cão vivendo na natureza nem sempre ocupa a
posição ínfima a que é sujeitado entre os seres
humanos. Não vivem por exemplo atrelados, que
lhes restringe os movimentos, podem sempre fazer
as suas necessidades, e têm muito mais
interacções com membros da sua espécie.


A indústria por detrás dos animais domésticos:
Neste momento (princípio de 2000) existem na Holanda (além de 16 milhões de pessoas) uns 15 milhões de animais de estimação. Há mais de 1700 lojas especializadas onde se podem comprar os animais e/ou os artigos relacionados. Gasta-se cada ano cerca de 600 milhões de florins em animais domésticos dos quais 87% em cães e gatos. Como assim se vê, por trás dos nossos animais domésticos floresce uma grande indústria. Não só para criar os animais, para os capturar ou para os manter em asilos, mas também para a produção e venda de artigos acessórios como comida, gaiolas e brinquedos.

Os animais são criados e produzidos de forma adaptada aos caprichos humanos. Usando técnicas de marketing os vendedores continuam a persuadir cada vez mais pessoas a comprar "um bichinho muito querido". Aqui tal como na bio-indústria verifica-se uma ampliação de escala e exageros de selecção dos criadores, com todas as consequências relacionadas.

Por exemplo, o coelho angora é apenas um dos muitos "modelos" de coelhos à venda hoje em dia. O homem decide o que acha bonito, e re-cria o animal por meio de excessos de selecção reprodutiva. Pouca ou nenhuma atenção é concedida aos interesses do animal em si. Algumas espécies, sobretudo as exóticas são roubadas ao seu ambiente natural. Só para a Holanda destinam-se uns 22 milhões de animais por ano. Em média, 1 a 3 por cento desses morre durante o transporte e em depósitos, ou seja uns 220.000 a 660.000. No caso das aves morrem 50 a 60%. Os animais que sobreviverem a viagens esgotantes, vão passar o resto da vida engaiolados só para o prazer humano.

Anualmente, apenas na Holanda, uns 22 milhões de animais exóticos são roubados ao seu ambiente natural. Muitos animais passam toda a vida fechados num espaço exíguo. Por exemplo os pássaros, os coelhos, os porquinhos da Índia, os peixes. Estas condições não estão de acordo com a sua natureza, e práticamente não têm a possibilidade de viverem conforme as suas necessidades naturais. Não tem espaço para o seu comportamento natural, como fazer tocas, contactar com outros coelhos, ou comportamento sexual.

Temos o direito de reduzir um animal a isto ?





K.
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August 09, 2006

auto-amor e dependência: escravização de animais

À vc Maia, dos olhos de mel,
eu envio esta minha esperança que a humanidade evolua rapidamente
e páre de escravizar os seus,
permitindo que vcs vivam nos campos e em liberdade.


Quem me conhece, sabe, e mesmo aqui no blog eu já comentei isso : sou pragmática mas me recuso terminantemente à fazer coisas tais que tomar café em copo de papelão! Acho isso uma pobreza de espírito tão grande quanto andar com a roupa cheia de pêlos de animais! Já adivinharam, né?
... embora esse sentimento me envergonhe, p/ ser sincera é o primeiro que me aflora quando vejo alguém puxando/sendo puxado por/com uma colheira.

Enfim, p/ mim, este negócio de ter animal em salão... bom, pas de commentaires!

P/ outro lado, acho que só deveria ter animal dentro de casa a pessoa que fôsse capaz de não deixar pêlos nem odores no ar, o que, sejamos francos, a maioria dos mestres não percebem ou não se importam. Mas isso não modifica em nada a realidade pois o fato de terem cachorro e gato dentro de casa fede sim, e muito, em alguns casos dependendo da energia do animal e da falta de higiene do dono.

E este discurso que repete uma receita tão antiquíssima quanto deslavada que diz que quem "possede" um animal é por amor... por amor à si mesmo, né? Diga logo: auto-amor. Pois é, este tal discurso de "amor e dependência" criado pela indústria que comercializa e lucra com a escravagem dos animais, discurso repetido por pessoas ingênuas ou que preferem se passar por ingênuas, tira destes animais toda a chance de evoluírem. Imaginem se o ser humano tivesse que viver com uma coleirinha agradando um mestre omnipresente? Pois este tal de 'amor' = dependência do mestre em relação ao sofrimento e falta de opção do escravo". Isso me faz pensar à situação das mulheres em certas culturas que pronam a poligamia e explicam esse costume como uma oportunidade por um grande número de mulheres de terem um homem que se responsabilize materialmente por elas.

Mais uma vez... sans commentaires...

O pior é que o discurso da poligamia é defendido por pessoas inteligentes vindas desta culturas. Assim como o fato de posseder animais entre quatro paredes é defendido por pessoas inteligentes das culturas ocidentais. Enfim, a coisa é emocional demais p/ que se possa simplesmente fazer uso do seu bom senso. Mas justamente por reconhecer o quão emocional a coisa é, eu tenho abertura de espírito suficiente p/ admirar e continuar gostando de pessoas que, infelizmente, tenham estes costumes... aí incluo também o copo de papelão.

Tenho uma amiga que nasceu e cresceu no meio de obras de arte, algumas antiguidades mesmo do século XVI e, embora ela possa dormir em chão frio e suportar privações materiais, é muito difícil p/ ela comer em pratos que não sejam de porcelana fina; ela até come na falta, mas não é a mesma coisa, me confessou. Isso quer dizer que um pouco de espírito crítico não faz mal p/ ninguém, mesmo se temos as nossas preferências pessoais ditadas pelo meio ambiente ou pela cultura.

Basta constatar como está "aparecendo" nos animais doenças tais como diabetes e outras que eram apanágio dos seres humanos. Cachorros, gatos e quaisquer outros animais que puderem ser colocados entre quatro muros p/ "fazer compagnia", hoje em dia são obrigados a comer alimentos industrializados, tomar vacinas, operar p/não ter filhos ou p/ não latirem, ou p/ não ter rabo ou orelha longa, ou tirar as unhas, etc... enfim, suportam uma série de mutilações p/ facilitar a vida e garantir aos seus donos a certeza de "serem amados".

Outro dia vi um cachorro lindo, pequenininho, e com uma enorme tatuagem na barriga! Eu tremi perante a constatação da creatividade da maldade humana.

Mostrar afeição em troca de alimento é algo que os animais são obrigados à fazer devido à situação injusta na qual eles se encontram; eles são condicionados à isso. De verdade, este comportamente não é afeição nem amor, é dependência. Os animais domésticos dependem das pessoas p/ se alimentarem e terem um teto. Mas todo um esquema é desenvolvido e socialmente organizado ($$$$) p/ que suas liberdades sejam totalmente ignoradas e continualmente agredidas. Isso gera um círculo vicioso de dependência. Mas, se o animal doméstico pudesse ser livre e encontrar ele mesmo o seu próprio alimento, desenvolver em liberdade o seu comportamento e instintos naturais, ele não se mostraria tão disponível a mostrar afeição p/ as pessoas as quais ele é dependente. Ele, simplesmente iria embora, se pudesse escolher e se não tivesse sido condicionados à esta dependência e nem se não existisse todo este esquema organizado que poda continuamente os seus instintos primários.

Quando pessoas procuram afeição, a melhor coisa seria procurá-la entre outros seres humanos, pois existe uma desigualdade de direitos e situação em relação aos animais; é o ser humano que decide das regras, e esta situação é totalmente injusta p/ com os animais. A pessoa que ama realmente um animal, e se quizer realmente dar amor aos animais, ela não deveria pedir suas libedades em troca, muito menos pedir que eles mostrem afeição por elas.

O amor dá a liberdade. O amor não é sede de poder, nem aceitação do papel de dominador em uma relação. Como você pode dominar alguém que você ama? Como você pode fazê-lo dependente de uma situação tão injusta, e ainda chamar isso de amor, ou afeição?

P/ mim, as pessoas que têm animais precisam de controlar outros seres ou situações. Alguns, precisam também de se sentirem controlados. Nelas, o conceito de independência é inadmissível, então fazem de tudo para fazer o outro se sentir idêntico à elas mesmas, quer dizer, dependentes.

O ser livre escapa ao contrôle e é imprevisível. P/ estas pessoas é inadmissível de amar uma pessoa livre.

Essa procura ímpia atrás de "um pouco de sensação de ser amado por um outro ser" é o exato contrário do amor, sobretudo quando me lembro da Maia, uma cadela de olhar terno que eu conheci, tão cheia de amor... Este post eu dedico à ela e às pessoas que procuram conservar um pouco de dignidade no seu dia à dia mesmo se for só evitando cafézinho em copo de papelão, ou comendo em porcelana fina, ou dormindo embaixo de um piano Yamaha.


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August 03, 2006

Semana Mundial da Amamentação

Uma mulher que amamenta pode guardar muito bem tanto a sua classe quanto a sua elegância (he he he... rs...), porque amamentar não é esta coisa tão difícil e complicada quanto algumas pessoas na América do Norte imaginam não. Sou particularmente orgulhosa desta foto porque eu era a madrinha de um casamento e levei minha filha, que tinha menos de 1 mês, na igreja. E não foi nada complicado, foi até fácil, não deu trabalho nenhum. Aqui na foto, um pouco depois do casamento, eu amamentando, de minisaia e saltos altíssimos.

Amamentei ela durante dois anos e meio (acho que criança tem que ter muito amor e mamar muito p/ não ficar insegura e nem com fome; e acho que foi uma das coisas que me ajudou à rapidamente voltar p/ a minha forma, perder barriga, e a nunca ter seios caídos, ao contrário do que muita mulher pensa sobre amamentação -acho que, se os seios caíram, é porque deveriam cair mesmo, não foi a amamentação não.
Enfim, sou da opinião que criança tem que receber muito de tudo p/ crescer sem necessidades; o meu 'tudo' é amor e atenção, não inclui presentinhos desnecessários, fast-food, doces ou refrigerantes, mas ela nunca gostou disso mesmo, justamente porque eu nunca tive isso em casa; ela só foi gostar de docinhos, e de vez em quando, na escola primária; eu nunca proibi nada, só não tinha em casa e não comia).

Voltando à amamentação, depois de dois anos eu queria ainda continuar, mas ela foi perdendo o interesse. Até os 6 meses, só tomou o meu leite; depois disso fui introduzindo lentamente a comida que começou com sopinhas de legumes que eu deixava 2 horas em fogo baixíssimo. E neste tempo eu ia na universidade, mas fui diminindo o número de cursos, tomei muito tempo p/ me dedicar à ela, o que sempre me deu um grande prazer. Mas deu p/ sentir que aqui no Canadá a maioria das pessoas nunca viram uma mulher amamentando e este ato sempre gerou muita perturbação ao meu redor. Uma vez fui amamentar no Metrô, e alguns homens que se deparavam comigo descendo as escadas e amamentando, voltavam atrás de mim p/ ficar olhando (ou p/ meus seios, ou p/ ela mamando... nunca soube). Enfim, p/ mim não foi difícil naquela época, porque eu estava chegando e de verdade, ainda não tinha me conscientizado que amamentar era 'anormal' p/ as pessoas aqui. Sempre levei tudo isso numa boa, e nunca deixei de alimentá-la quando ela tinha fome, em qualquer lugar.

Acredito que é essencial que a criança seja amamentada nos seios porque a mãe está oferecendo uma segurança que não tem preço. A personalidade da minha filha foi se desenvolvendo de forma profunda e aflorando p/ todos os lados. Ela é uma pessoa muito independente e segura de si, tem firmeza, nunca foi colada em mim nem no pai, nem em ningué, sempre muito independente, sempre cheia de ternura e dedicação. Eu acredito que grande parte desta segurança venha do fato de ela ter sido amamentada com tanto amor. E isso foi algo que me deu um grande prazer na vida, eu sempre fui orgulhosa destes momentos que tínhamos, e de como ela gostava e de como era sadio ver o filho crescendo sadio graças ao nosso leite, o melhor alimento que existe. Foi o que sempre pensei. Quando a criança bebe o leite da mãe, está de uma certa forma também bebendo a mãe, bebendo o amor da mãe, a esperança, a dedicação.

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A Denise é quem teve a idéia desta blogagem coletiva. A minha contribuição vai aí nesta foto de que muito me orgulho: eu amamentando minha filha.


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À espera das fotos do México... Sainte Maxime





Comecei a colocar algumas fotos do Yucatan, mas ficarão p/ mais tarde porque não sei aonde foi parar o danado do fio p/ a transferências p/ o laptop. Enquanto isso, a Katu me enviou imagens de Sainte Maxime, na Côte d'Azur (em frente de Saint Tropez), aonde ela passando férias. Olhem isso enquanto vcs aguardam (falar nisso, a Katu me disse que assistiu os fogos de artifício em homenagem ao casamento (mais outro) da Pamela Anderson, em Saint Tropez.

August 02, 2006

Nomes estranhos... e feira de dentaduras

Acabei de falar com a Cláudia depois de algumas tentativas skypianas, a ligação p/ a França sendo quase sempre ruim enquanto p/ o resto do mundo é muito boa mesmo, melhor que telefone. Na nossa conversa, alguma coisa me fez lembrar de dois colegas de escola, e antes de ir p/ a praia eu vou contar isso aqui. Faz mesmo um tempo que estou pra contar e, se duvidarem da veracidade da coisa, dou até o nome da escola: Colégio Marcello Fonseca Drable, em Barra Mansa, RJ.

Eu tinha dois colegas de classe, um que se chamava Divino Messias do Espírito Santo e que a gente chamava ora Divino, ora Messias; e um outro cujo nome de família esqueci mas que se chamava Delírio. E a gente dizia assim: "Divino, me passe este lápis por favor!... ou "Delírio, a professora tá te vendo!" .

Eu dava muita cola p/ o Delírio, pois ele era o típico rebelde, gozador, sedutor, contra-corrente, e que não queria saber nada de regras, disciplina ou estudos, enquanto o Divino era, como dizia a minha avó, muito apessoado. Eram opostos. Estudamos juntos durante todos os anos de ginásio e muito provavelmente do primário também. O pior é que em todos estes anos, eu e nenhum de meus colegas de classe tomamos consciência do absurdo da coisa. Foi preciso crescer, casar, ter filho e envelhecer p/ estes dias eu acordar e pensar: Êpa! o Messias chamava-se Divino Messias! E aí fui me lembrando que todo santo dia a professora fazia a chamada e repetia o nome completo de cada aluno em voz alta, e a gente ficava de pé e respondia por "Presente", mas ninguém ria nem comentava e duvido que na cabeça de algum de nós tenha passado uma sensação de estranheza ao ouvir o nome de cada um deles. Se fosse isso, existiria piadas, mas nunca existiu. Nem durante, antes e nem depois da aula. Estranhamente, p/ nós chamar-se Divino Messias do Espírito Santo era algo tão normal quanto chamar-se Delírio!!

Nem quando eu comecei a colecionar Sandman, que tem um irmão que se chama Delírio, eu acordei p/ o absurdo da coisa. Sandman é uma história em quadrinhos e a maioria dos personagens são oriundos da imaginação fértil de Neil Gaiman. Mas Gaiman, na vida real, não colocaria o nome de Delírio em um de seus filhos, eu tenho certeza. Os pais do Delírio eram certamente poetas e os do Divino, amendrontados.

Delírio era loiro, cabelos encaracolados, pele rosada. Tinha cara de anjinho de missa, mas era um capeta. Imagino que seja o único Delírio do mundo! A maioria das meninas não queriam nem ficar do lado dele por puro medo pois ninguém sabia o que ele podia aprontar. Ele gostava muito de mim e de uma outra amiga nossa, a Tânia Cunha, talvez por que além de eu viver dando cola p/ ele nas provas, nós éramos únicas meninas que não fugiam à sua presença. Por isso, de vez em quando ele aparecia com umas balinhas e bombons p/ nos presentear. Depois ficamos sabendo que ele roubava estes bombons e balinhas dos despachos que encontrava nas encruzilhadas, sobretudo em época de Cosme e Damião, mas não era de maldade não, p/ ele isso era uma honra. Ele jupava também as balinhas do despacho junto com a gente, todo orgulhoso de estar em nossa compagnia, sentados os três no banco da praça, ele, satisfeito de si mesmo, jogando algumas das balas chita nos automobilistas que faziam o balão da pracinha do bairro Ano Bom.

Já o Divino era um neguinho bem tino, raquítico, sorridente, humilde e simpático. Parecia um espermatozóide com aqueles olhos brancos e grandes que se destacavam na cabeça de um corpo que carecia de gordurinhas. Desconfio que recebeu o nome por conta de promessa p/ tentar salvá-lo desta sina triste, pois o menino carregava o nome com justeza. Aliás, todos dois carregavam, cada um, um nome que lhes iam muito bem com a personalidade. A lembrança mais punjente que tenho do Divino -após o nome, a figura de cabeçona e o sorriso muito branco- é o dia em que ele caiu num barranco e saiu amparando um dos olhos nas mãos. No começo eu vi aquilo e não entendi direito pois tinha ouvido um grito, olhei p/ o barranco e vi ele andando com a criançada toda às voltas, ele, o pobre, com uma urgência nos gestos, sério e sem tempo p/ choros, que aparava com as mãos um monte de fios coloridos em violeta e vermelho, alguns poucos azuis. A lembrança que guardo é sobretudo deste violeta, cor bonita e que me ficou na memória depois que eu entendi que aquilo era de verdade um olho. Eu nem sabia que olho saía assim e que a gente podia segurar com as mãos. Aparentemente ele sabia e fez a coisa certa sem alardes, objetivamente pragmático. Ele deveria ter uns 11 anos nesta época.

K.
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Mais surrealista do que este caso aí em cima é um outro contado por um conhecido meu que viajou por várias regiões do Marrocos, encontrando uma venda de dentaduras em um destes mercados ao ar livre. No lugar tinha uma barraquinha cheia de dentaduras de todos os tipos e tamanhos. O cliente que vinha atrás de uma dentadura, pegava algumas p/ experimentar, colocava a dentadura na boca, olhava no espelho e se não gostasse colocava de novo em cima da mesa. O próximo cliente vinha e fazia a mesma coisa, e cada uma das dentaduras tinha sido já experimentada várias vezes por vários compradores potenciais destentados, de boca em boca, de banguela em banguela, de saliva em saliva.