Writing, Flying and Huevos Revueltos

November 22, 2005

Vive Montréal!

Désolé pour ceux dont l’humeur est aigre, mais vraiment, vraiment, j’adore Montréal et elle me le rend bien, surtout entre jeudi et mardi de chaque semaine.

Le vendredi dernier, la ‘tit famille est allé diner chez le resto thaïlandais Sherbrooke coin St. Denis (où était logé l’ancien Commensal, souvenez-vous?). Samedi matin, brunch chez le brésilien Senzala du Plateau. Dimanche matin, ‘tit déjeuneur chez Norma, la boulangère du coin. Ensuite, une bonne marche de santé sur le Mont-Royal pour remplir les poumons d'air froid et après midi, le meilleur capuccino de Montréal chez Gino, au Café Italia, de la Petite Italie. Ce matin, Power Yoga et déjeuneur avec mon amie Mai au Vietnamien de la rue Laurier. Après, une rigolade avec Monica Freire où nous avions parlé du Brésil, de l’immense spiritualité de notre peuple, et de notre amour pour Montréal.

NINGUÉM NASCE PROSTITUTA

Fernando Gabeira é o autor de um projeto de lei que regulamenta a prostituição. Assim ele abre espaço para que o explorador de mulheres não seja mais considerado um criminoso.
Estou bem consciente que a imagem da bela prostituta que se dá muito bem e que adora o seu trabalho é pura ficção, digna irmã da Bela Adormecida. Alguma dúvida que há, ou houve, algumas ou alguns satisfeitos. E mesmo se a lenda diz que certas pessoas se prostituem por que gostam. Mas as que são levadas por necessidade ou desequilíbrio afetivo, a grande maioria, vai é para ganhar um pouco mais de dinheiro ou p/ alimentar a família.
Perguntem à estas pessoas se elas tivessem crescido numa sociedade justa aonde mulheres e crianças são respeitadas tal como se respeitam um homem, e se elas tivessem tido oportunidades de desenvolver todo seu potencial como seres humanos, emocionalmente e materialmente, com acesso à estudos, trabalho, moradia, prazeres da vida porque ninguém nasceu só p/ trabalhar ou estudar, viagens, restaurantes, etc, etc e tal, para elas e para seus familiares; perguntem se elas tivessem sido valorizadas nesta sociedade, com oportunidades e apoio para almejar suas aspirações; perguntem se em tais condições, elas ou eles não teriam escolhido ganhar dinheiro com outra atividade que lhes fizessem ser orgulhosos de si mesmos, não somente como cidadãos mas como ser humano, e sobretudo como mulher.
Mesmo se sei que o fato de ser homem não garante justiça, sei também que o fato de ser mulher ou criança ou adolescente, garante muito menos justiça do que à um homem. Acho que mesmo se vivéssemos numa sociedade espiritualmente evoluída, aonde o sexo fosse uma atividade sadia, espiritual e respeitada por todos, mesmo assim, um ser humano não deveria ser obrigado a se transformar em uma máquina de dar prazer (ou sensação de poder?) de forma alguma.
A lei do Gabeira para mim é perigosa porque tem grandes chances de só contribuir à regulamentar uma situação de discriminação que existe depois que o sexo masculino tem todas as prerrogativas dentro da sociedade humana.
Em todo caso, a revista Marie Claire entrevistou a psicóloga Nalu Faria, coordenadora de uma ONG voltada para os interesses da mulher, e que critica o projeto. Segundo ela, e é o que eu acredito também, é que quem explora a prostituição ficará ainda mais fortalecido.

NINGUÉM NASCE PROSTITUTA
NALU FARIA, coordenadora da Sempreviva Organização Feminista (SOF)

MC O que acha do projeto que regulamenta a prostituição?
NF O projeto trata menos da regulamentação e mais da liberalização do comércio que envolve a atividade. Não apresenta nenhuma defesa real da prostituta e da violação de direitos que elas sofrem.

MC É contra regulamentar a atividade?
NF Não encaro a prostituição como profissão. Entendo que as prostitutas merecem ser protegidas e precisam ter os direitos assegurados. Só que o projeto não define regras, é vago no que diz respeito às garantias de direitos dessas mulheres. O projeto só defende o fim de artigos penais que tratam do comércio em torno da atividade.

MC Os serviços sexuais deveriam ser pagos ou não?
NF Não deveriam ser. Mulheres desde sempre foram exploradas pelo simples fato de serem mulheres. No meu ponto de vista, a sexualidade não é um serviço e sim uma relação entre pessoas em igualdade de posição. Ao se tornar um serviço, acaba fortalecendo as relações que pressupõem dominação de um sobre o outro.

MC O projeto propõe formalizar as casas de prostituição e tirar do crime a figura do cafetão. Isso pode favorecer as prostitutas?
NF De jeito nenhum. Os bordéis podem determinar que suas funcionárias façam sexo com um número maior de clientes, e o projeto não define como vai ser a fiscalização. Se nem grandes empresários cumprem direitos trabalhistas, alguém imagina que donos de bordéis irão cumprir? O outro item só favorece o cafetão.

MC Gabeira ainda propõe tirar do Código Penal o artigo que diz respeito ao tráfico de mulheres. Assegura ser contra o tráfico humano, mas considera o artigo desnecessário, já que há uma legislação específica sobre o tema que penaliza o tráfico de pessoas de maneira geral. O que acha?
NF O artigo que se refere especificamente ao tráfico de mulheres tem de existir. O Brasil está entre os países que têm o maior número de traficantes de mulheres no mercado da prostituição. Além disso, é uma importante rota de tráfico do turismo sexual. Então, por que acabar com uma lei que trata especificamente disso?

MC Alguém se torna prostituta por que quer?
NF Há poucos casos, mas, se examinarmos esses poucos, perceberemos que as mulheres têm auto-estima baixa, foram infelizes na escolha do parceiro, tiveram pais ausentes e vivências sexuais complicadas. Muitas viveram situações de pobreza afetiva e não sabem o que pode ser uma mulher autônoma. A pessoa escolhe ser prostituta em função das condições que tem ou pensa ter na vida. Mas alguém decide ser prostituta?
MC Quais os pontos críticos do projeto?NF Ser prostituta não é o mesmo que vender sanduíche em uma lanchonete. Gabeira entende que as relações são iguais, mas não são. Ele também não considera a questão da violência nem a desigualdade de poder entre homens e mulheres. Como assegurar isso num contrato? Quantas pessoas hoje têm carteira assinada? Não acredito que um projeto desse tipo possa trazer algum benefício social às prostitutas.