Writing, Flying and Huevos Revueltos

March 29, 2007

O filme "300"


O ridículo politicamente correto da nossa atualidade querendo destruir a criatividade e a fantasia, e mesmo a realidade da História.
Sou fã de HQ, BD, graphic novels, gibi, etc. Sou fã disso tudo, e p/ completar, eu já tinha gostado de 2 filmes que foram adaptados e têm uma estética bem próxima das HQ: Sin City, baseado na obra gráfica homônia de Frank Miller, dirigido pelo próprio Miller e por Robert Rodriguez; e O Imortal, escrito e realizado por Enki Bilal.

Frank Miller também escreveu "300", HQ adaptada p/ o cinema com direção de Zack Snyder e no qual Miller também participa como produtor executivo. Faz semanas que assisti o filme "300", mas não tinha tido tempo de escrever a minha opinião. Agora, aí vai ela:

Nunca pensei que eu fosse escrever sobre um filme de guerra, mas assim que vi a estética eu sabia que teria que assistí-lo, porque o que eu supunha é bem real: não é simplesmente um "filme de guerra", embora a hemoglobina seja omnipresente, e mesmo tendo cenas duras e eu fechado várias vezes os olhos e me encolhido na poltrona, 300 permanece um filme que marca pela inovação e criatividade técnica.
Mas está generando debates apaixonados dos prós e contras.

Bom, o filme em si é inspirado em fatos históricos, a famosa "Batalha das Termópilas", ocorrida em 480 a.C., episódio também conhecido como "Os 300 de Esparta". O famoso episódio histórico do desfiladeiro das Termópilas embalou meus sonhos de adolescente, primeiro porque história é uma matéria que me interessa, tanto quanto estória, mas sobretudo pelas características da sociedade Espartana, pelo respeito q eles tinham pelas mulheres e pelas proezas de Leônidas, o "Filho do Leão". O "Filho do Leão" sempre me seduziu, tanto quanto Ricardo Coração de Leão, o filho de Alienor d'Aquitânia. A sedução vem em parte pelos feitos cantados em versos e prosas através dos séculos e o romantismo que a forca vibratoria de tais nomes insufla em ardor e fantasia. Sem mesmo se dar conta do fato, alguns amigos meus diriam, como já disseram, que o fato de admirar as caracterísitcias de um personagem masculino equivaleria à uma "necessidade de se ter um pênis".  Face à este eco de Freud, eu respondo: "Mentira Mentira!" da mesma forma que Hamlet grita: "Shame Shame!". Pois eu sempre quiz ter tracos que eu admiro em muita gente e entre eles Leônidas, Ricardo Coração de Leão, Alienor d'Aquitânia, Cleópatra, Rainha de Sabá, e sobretudo Penthesilea, a célebre rainha das amazonas, depois q eu assisti uma peca de teatro escrita por Heinrich von Kleist, c textos de Marina Tsvétaeva, e maravilhosamente interpretada por Carmen Jolin, sobre os amores e dramas de Penthesilea e Aquiles.

A história
Em resumo, depois de ter ouvido e lido críticas vindas de pessoas q nunca tiveram a curiosidade de procurar pelas fontes históricas, eu resumo aqui um pouco do contexto  do filme: em 499 a.C., o imperador Persa Dario sentindo-se numa posição de força envia os seus embaixadores às cidades da Grécia continental, a fim de submetê-las ao seu jugo, mas apenas a Macedónia e a Tessália se declararam vassalas da Pérsia. Inicia assim o conflito aberto entre Persas e Helenos, aonde Dario é derrotado. Xerxes, seu filho, subira ao trono em 485 a.C. com a mesma intenção de subjulgar a Grécia mas as cidades-cstados Gregas decidiram, em reação do perigo comum, pôr de lado as suas divergências tradicionais e formaram uma Liga, sob o comando de Leônidas, proclamando a reconciliação geral e declarando guerra à Pérsia (Leônidas era o chefe das tropas Espartanas, potência militar dominante na antiguidade e aonde homens e mulheres eram condicionados desde o nascimento à serem soldados profissionais). E foi desta reação geral de proteção que nasceu o que hoje conhecemos como a civilização ocidental.

O filme
Tudo começa com a tentativa de invasão da Grécia por Xerxes, que se considerava um imortal. A época não era propícia p/ guerras pois os Espartanos estavam em pleno festival religioso de Carnéia, o que os impossibilitava de lutar. Além disso 480 a.C. foi ano de Olimpíadas, durante as quais se proclamava uma trégua sagrada e cessavam as hostilidades entre todos os inimigos na Grécia. Assim, a cidade de Esparta, guerreira por excelência, tomou a frente de um exército de 300 Espartanos e de outros homens de várias outras cidades gregas, o que deveriam contar com o máximo 6.000 homens, sendo que a grande maioria eram pastores e lavradores e não entendiam nada de guerras. Segundo a New Oxford American Dictionary, Leônidas tinha um exército de 6.000 homens (300 soldados espartanos que permaneceram até o fim), enquanto os Persas tinham um exército de 200.000 à 2 mihões de soldados.

P/ os amantes de histórias em quadrinhos, esta ocasião é um prato cheio de delícias supremas em relação à renovacão e ousadia técnica e estética visual /sonora, porque o filme consegue realmente nos fazer submergir no mundo fantástico das Grafic Novels, permanecendo uma adaptação muito honesta da HQ e do recito histórico; sendo o único ítem fraco, a meu ver, o espaço dado à realidade espartana concernando as mulheres, mas que não é totalmente absente.

Esparta
Plutarco admirava as virtudes dos Espartanos, consagrando vários escritos sobre seus costumes: as crianças, meninos e meninas, depois dos setes anos eram educados pelo estado e condicionados às lutas, esportes e à uma vida frugal; desde a primeira menstruação, as meninas tinham uma vida sexual ativa e escolhiam seus amantes entre os escravos, casando-se geralmente aos vinte; só depois dos trinta anos é que os homens podiam se casar. Homens e mulheres praticavam juntos as lutas e esportes, nus ou as mulheres com uma pequena túnica aberta aos lados. As mulheres só usavam, o tempo todo, esta túnica, p/ total escândalo dos outros gregos; Ibycos de Rhégion as chamava de "aquelas que mostram as coxas" e o poeta Anacréon, quando se referia à elas usava um verbo, "dvri‹zein", no sentido de "se mostrar nua".

As Espartanas
Historicamente, eram guerreiras respeitadas não só pelo caráter bélico, pela capacidade estratégica como pela inteligência. Um recito de Plutarco diz que Gorgo, esposa de Leônidas e filha do rei Cléomène, aos 8 anos deu um conselho à seu pai de expulsar à pontapés um inimigo que queria comprar seus favores. E foi o que o rei do pai fez! Conselho de mulher era seguido à risca! Elas gozavam de uma liberdade pouco comum, permanecendo caso único no mundo antigo. Possívelmente, até hoje não exista nada comparado com a liberdade que as mulheres tiveram em Esparta, nem mesmo em nossas sociedades contemporâneas. Uma frase que ficou célebre na história é aquela de Géradas de Esparta, contada por Plutarco: “Não existe adultério em Esparta". A razão é que a noção de adultério era totalmente ignorada por eles porque as mulheres podiam ter filhos com qualquer cidadão livre, e mesmo com escravos em alguns casos, que as crianças seriam consideradas filhos do marido legítimo. Antes de casarem-se elas já tinham tido vários amantes e podiam mesmo ter filhos com estes homens pois filhos eram sempre bem-vindos socialmente. Plutarco, em "Vie de Lycurgue", conta que uma Ateniense perguntou à Gorgo: "Porque é que vcs Espartanas são as únicas mulheres à comandar os homens?. "Porque somos as únicas a dar nascimento à verdadeiros homens!", ela respondeu. Heródoto tbém conta que elas tinham suas opiniões respeitadas, pois tidas como muito inteligentes, e cita o seguinte: os gregos souberam do ataque persa graças à Gorgo, pois uma mensagem tinha sido enviada à eles, gravada numa tabuleta de madeira e coberta com cera p/ que o texto fosse escondido dos Persas. Quando a tábua chegou à Esparta, ninguém soube como ler a msg pois era muito difícil perceber que havia cera em cima dos textos, mas a rainha teve a idéia de raspá-la.

Conclusão
Reconheço a violência omnipresente no filme, mas não é maior do q de outras obras cinematográficas, como Apoclipse Now, por exemplo. 300 tem grande valor estético e técnico. Confesso que a violência me gera um mal-estar, mas o mesmo se dá quando assisto vários seriados de TV e vários outros filmes excelentes e q tbém retratam esta violência. Mas não é por isso q deixo de reconheço o valor que o filme tem através de uma estética particularmente envolvente; como trabalho com novas tecnologias, admiro muito este tipo de arte por saber o que isso realmente implica.
Mas, enfim, o filme gerou uma quantidade enorme de críticas "Politicamente Corretas" e uma batalha de oponentes politicamente corretos à procura de um detalhe p/ as acusações mais insanas umas que as outras; esta mentalidade está destruindo o bom senso geral. Há pessoas reclamando que o rei Persa era afeminado e p eles é um insulto, outros acusando o filme de homoheróico, uns dizendo que o personagem de Xerxes foi caricaturado, outros reclamando que o filme é uma propaganda política de guerra, outros dizendo q o filme quer denegrir a imagem cultural do Irã, e ainda outros ouvem e fazem eco sem analisar, e alguns sem mesmo ter visto o filme!!!

Ora, ora, o filme retrata um episódio histórico ocorrido há séculos, ninguém inventou o roteiro p/ ferir a cultura Iraniana e aliás, o roteiro segue muito bem a História e foi escrito muito antes da guerra do Irã. Mas podem questionar: porque fazer um filme destes justamente agora qdo existe esta guerra? Certo, podem. Mas na minha opiniao, isso pode ou nao ter sido falta de bom senso, tanto quanto Charles Chaplin que fez o  The Great Dictator em 1940, ridicularizou o nazismo e mesmo retratou personagens judeus ostensivos, mas foi considerado um ato de coragem.

Há alguns anos ninguém questionaria os filmes sobre a segunda guerra os acusando de denegrir a cultura alemã. Ou os filmes sobre a Guerra Fria como um ataque deliberado contra a cultura Russa. Assim, os alemães seriam vítimas dos filmes de guerra que poluíram nossas telas nos últimos 50 anos?! Charles Chaplin por ter feito entre outros o The Great Dictator, seria condenado pela critica por caricaturar um Hitler afeminado?  Isso sem contar os militares do mundo inteiro que reclamariam do fato de um dirigente militar em uniforme ter sido descrito como ignorante e ridiculo!

300 retrata como o pragmatismo bélico foi a forma de sobrevivência numa sociedade antiga. Pode ser mesmo propaganda bélica, mas pode ser tbém um clamor p o bom senso. Exatamente como nas tribos Yanomamis do Brasil aonde a mãe tem o direito de matar, no nascimento, a criança que mostra algum defeito físico que impediria sua plena aceitação social. Isso eu não estou inventando, um amigo meu que viveu 10 anos no meio da tribo, na floresta, me contou este fato. Eu fiquei possuida de raiva, mas meu amigo me acordou: vc nao pode condenar eles la e vc aqui, é a cultura deles e é uma cultura ancestral. No nosso mundo contemporâneo, esse ato é completamente bárbaro, assim que para eles é bárbaro cortar arvores no meio da floresta qdo se precisa delas p se ter alimento, medicina, protecao. Mas assim como devemos olhar certos costumes de nossos antepassados como algo que se explica pela própria época em que se encontravam, devemos fazer prova de inteligência respeitando e compreendendo cada época e costume.
Na hora da critica pela critica, muitos grupos se transformam em algozes com o mesmo pensamento e atitudes de q eles sempre foram vítimas. Particularmente vejo nisso um grande perigo, sobretudo prq muitas das cabeças pensantes da atualidade procuram se acomodar num confortável estereótipo da vítima.

Heródoto foi quem primeiro apresentou o número dos guerreiros em meio à luta e embora encontremos divergências nos números dados através dos tempos, uma coisa é certa: a disparidade numérica que levou com que a batalha terminasse com uma aparente vitória Persa, mas hélas, conseguida unicamente devido à traição de Efialtes que revelou aos Persas um caminho secreto que conduzia à rectaguarda das Termópilas, possibilitando um ataque surpresa no meio da madrugada! Entretando, os gregos conseguiram inflingir um elevado número de baixas e retardar o avanço Persa, cumprindo o objetivo de Leônidas, o que enquadra esta batalha num exemplo de estratégia militar, pois eles desejavam ganhar alguns dias à mais enquanto o resto dos Estados Gregos organizavam a defesa. A vitória Grega foi conseguirada 2 meses depois, lançando assim as bases da democracia (?) e da futura civilização ocidental e eu tive um prazer imenso em ficar lá sentadinha absorvendo um filme que marca em matéria de técnica cinematográfica. Bravo!

Plutarco: Apótegmas dos Espartanos; Apótegmas das Mulheres Espartanas; Antigos Costumes dos Espartanos.