Writing, Flying and Huevos Revueltos

October 21, 2006

Poesia do mito, uma complexa associação de idéias (4)

Lousnak

Lousnak
Ela é noturna e fascinante; suas canções não deixam ninguém indiferente. Seu canto é emotivo, muito suave, doloroso, cheio de silêncios e poesia. Pintora e atriz (Ararat, de Atom Egoyan), mas sobretudo cantora, seu nome significa "pequena lua" e sua música possui uma alma. De origem armeniana, ela vive em Montreal há mais de vinte anos, mas ao ouví-la, nós somos imediatamente transportados à um outro mundo, docemente sombrio, docemente melancólico, feito de beleza e profundidade.

Poesia do mito, uma complexa associação de idéias (3)

K.
Parque du Mont-Royal, 2000
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Poesia do mito, uma complexa associação de idéias (2)

Hécate
Mágica, caótica, imprevisível, Hékate ensinava a alma a recordar suas vidas passadas, sendo uma divindade subterrânea, quer dizer, ctônica. As divindades ctônicas residiam abaixo da superfície da terra, concernadas com o básico da vida: fertilidade, parto, colheitas, destino e morte, faziam germinar e frutificar as possibilidades de tudo que é material ou abstrato.
O próprio Zeus, que portanto não se submetia à nenhum outro ser, rendia culto à Hécate, com quem compartilhava o poder de conceder ou reter os desejos humanos e os domínios do mundo. Deusa Tríplice, em trindade com Perséfone e Deméter, ela não reinava apenas sobre o mundo da magia e da morte, mas sobre tudo que dizia respeito ao nascimento, renascimento e renovação. Em algumas versões, ela era mãe de Scyylla, e filha de Perseu e Astéria; em outras, filha de Nyx, a noite profunda e antiga do inconsciente.
Sua origem remonta, historicamente, aos karianos da Ásia menor, chegando em Grécia no século 6 a.c. . Hekat, uma antiga palavra egípcia que significa "Todo o poder", pode ser a origem do nome Hécate. Em alguns lugares da Tessália, ela era cultuada sómente por mulheres, nas noites de lua cheia.
Os mitos gregos atribuem-lhe a concessão da prosperidade material, o dom da eloquência nos discursos, a vitória nos campos de batalhas, assim como o acesso à memória do Inconsciente Coletivo e das forças primitivas. Representada carregando torchas acessas cuja luz indica o caminho à seguir na vasta escuridão de nosso ser interior, acompanhada por espíritos e lobos que uivam, Hécate é a imagem invencível de uma guardiã do mundo subterrâneo que envia sabedoria intuitiva e sonhos proféticos p/ a humanidade. E visão inspirada aos artistas.

Poesia do mito, uma complexa associação de idéias (1)

Julia Margaret Cameron
The Kiss of Peace, 1869

"Be it addressed to the eye, ear, or mind only; be it a song of Handel, a painting of Reynolds, or a verse of Shakespeare; if it " transport our minds beyond this ignorant present" , if it full us with consciousness of immortality, or the pride of knowing right from wrong, it is to us, to all intents and purposes, poetry. Nor is it anything uncommon in language to apply the term to these arts. We hear of the poetry of sculpture, the poetry of painting.”
J. Keble, Occasional Papers and Reviews (Oxford, 1877) p. 152-153

As palavras de John Kebler, líder do Movimento de Oxford, refletem o pensamento de Julia Cameron. E resumem o seu trabalho. A poesia do mito, de acordo com Kebler, nos transporta, e inspira uma complexa associação de idéias ligadas à moral e à espiritualidade. Esta teoria foi defendida por David Hartley em Observation on Man, em 1749. Julia Cameron e seu marido, Charles Cameron, foram fortemente influenciados pela teoria de David Hartley; eles eram amigos de Henry Taylor, que mantinha relações estreitas com os escritores Coleridge e Wordsworth, e que também foram fortemente influenciados por Hartley. Charles Cameron escreveu, em 1824, um ensaio intitulado Essay on the Sublime and Beautiful.

Julia Cameron
Para muitos, sua técnica era imperfeita, mas é justamente esta 'imperfeição' que gera a poesia e a beleza das imagens de Julia, que começou a trabalhar com fotografia em 1863 e nomeia seu trabalho de 'Arte Divina'. Vaporosas, suas imagens têm uma 'nebulosidade' intencional que nos conduz à uma atmosfera romântica e mística de inspiração intemporal.
Leitora de Keats e de Tennyson, ela fazia parte de um grupo de pessoas que propunham questionamentos e reflexões sobre a poesia, literatura e arte em geral. Graças à sua técnica e tenacidade, Julia Cameron forneceu uma preciosa contribuição para a estética na arte fotográfica e seus trabalhos continuam inspirando artistas contemporâneos.
Mulher forte e dotada de un temperamento ardente, ela começou a trabalhar com a fotografia aos quarenta e oito anos. Com a sua família, suportava frequentemente dificuldades financeiras, mesmo tendo ajuda financeira de Lord Overstone, à quem escreveu : "... so, I suppose I must suppress my ambition and stop, but it is an art full of mystery and beauty... " .
(NOTA : Este texto é um extrato de um projeto universitário, 'HISTOIRE DE LA PHOTOGRAPHIE (1830 - 1940) - JULIA MARGARET CAMERON ET LES PRÉRAPHAÉLITES', escrito por mim, e que foi impresso em 1996 pela Université du Québec à Montreal. Cópias interditas, of course!).