Writing, Flying and Huevos Revueltos

March 08, 2006

Oito de março: Dia Internacional da Mulher

Oito de março: Dia Internacional da Mulher


Judith cortando a cabeça de Holofernes, 1612-21; Galleria degli Uffizi, Florença.

Cliquem em cima da imagem p/ agrandí-la, mas antes leiam o que se segue:historiadores da arte viram que em realidade a composição descreve uma mulher em trabalho de parto. Os braços do homem (Holofernes) seriam em realidade, as pernas da mulher, e a cabeça seria a cabeça do bebê nascendo. Sangrenta e violenta, a imagem reflete um desejo de vingança; seria o terror de Artemísia quando foi violentada aos 17 anos. Nela, Artemísia decepa a cabeça do homem com a mesma espada que simbolicamente lhe transpassou a vagina.

Foi em 1989 que eu tive contato com o trabalho da italiana Artemísia Gentileschi (1593/1653), uma pintora considerada por historiadores como um mestre. Por amar a arte e querer progredir na pintura, ela pagou um alto preço pois na época era raríssimo que uma mulher, sobretudo jovem e bela, ousasse querer aprender uma arte que era exclusivamente seguida por homens. Filha do pintor Orazio Gentileschi, Artemísia foi violentada aos 17 anos por Agostino Tassi, com quem ela estudava pintura, e o processo deste crime foi uma prova traumatizante para ela que foi catalogada de ninfomaníaca e adúltera (Tassi era casado).
Para alguns, uma análise psico-histórica de seu trabalho, nos leva à conclusão que ela se sentia ameaçada sendo uma mulher no meio de uma cultura artística e social misógena e dominada por homens. Mas isso não a impediu de continuar progredindo em sua arte.

Influenciada pela pintura muitas vezes dita ‘tenebrosa’ do grande Caravaggio, Artemísia Gentileschi previlegiava nas suas composições a representação de mulheres fortes e que ousavam se rebelar contra uma certa mentalidade patriarcal, tais como Bathsheba, Cleópatra e Judith, esta última representada cortando a cabeça de Holofernes. Algums estudiosos de sua obra falam da descrição que ela fez, através de suas pinturas, das violências que as mulheres sofriam, como o parto doloroso e sanguinolento que podemos ver na composição de Judith cortando a cabeça de Holofernes.



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Bárbara Eliodora (1759 - 1819):
Sobre ela: Era filha de um advogado influente em São João del Rei, teve uma educação bem diferente das moças de seu tempo. Era alfabetizada e, muito jovem ainda, mais ou menos 15 anos, foi morar com o futuro inconfidente, o ouvidor da Vila de São João del Rei, José Ignácio de Alvarenga Peixoto, motivo de escândalo em toda a província. O casamento só foi oficializado depois do nascimento da primeira filha. Em 1789, a família ficou extremamente abalada com a prisão de Alvarenga Peixoto. Em 1792, o inconfidente foi deportado para Angola, onde faleceu meses depois. Ela, então, assumiu os negócios, administrando fazendas, lavras e escravos. Sua filha, Maria Efigênia, chamada pelo pai como princesa do Brasil, faleceu aos 15 anos em decorrência de uma queda de cavalo. Esse fato deixou Bárbara psicologicamente abalada para o resto da vida.

Conselhos a meus filhos
Meninos, eu vou ditar

As regras do bem viver;
Não basta somente ler,
É preciso ponderar,
Que a lição não faz saber,
Quem faz sábios é o pensar.
Neste tormentoso mar
D’ondas de contradições,
Ninguém soletre feições,
Que sempre há de enganar;
Das caras a corações
Há muitas léguas que andar.
Aplicai ao conversar
Todos os cinco sentidos,
Que as paredes têm ouvidos
E também podem falar:
Há bichinhos escondidos,
Que só vivem de escutar.
Quem quer males evitar
Evite-lhe a ocasião
Que os males por si virão,
Sem ninguém os procurar,
E antes que ronque o trovão,
Manda a prudência ferrar.
Não vos deveis enganar
Por amigos, nem amigas,
Rapazes e raparigas
Não sabem mais que asnear;
As conversas e as intrigas
Servem de precipitar.
Sempre vos deixeis guiar
Pelos antigos conselhos,
Que dizem que os ratos velhos
Não há modo de os caçar;
Não batam ferros vermelhos,
Deixem um pouco esfriar.


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O Grupo Corpo

Outro dia, meu amigo Fábio me enviou uma msg dizendo que iria assistir à um espetáculo do Grupo Corpo aqui em Montreal. Aí, eu corri até a Place des Arts e pedi p/ o cara da bilheteria, amabilíssimo, p/ me achar um lugar ao lado do Fábio (como tudo é automatizado, ele tem acesso ao nome das pessoas que compraram cada uma das cadeiras e pelo nome cheguei ao meu amigo). Assim, adorei fazer uma surpresa ao Fábio, pois quando ele chegou eu estava lá linda e loura sentadinha do seu lado. Eu queria ter chegado depois dele p/ que a surpresa fosse maior, mas 2 minutos antes do espetáculo começar o danado ainda não tinha chegado, e eu não queria correr o risco de ficar presa do lado de fora (eles fecham a porta e a gente só entra nos aplausos, o que está certíssimo).
Assim, assistimos ontem à noite à uma dupla programação, Lecuona e Onqotô, do Grupo Corpo, o que foi uma experiência realmente divina. Se alguém tiver a oportunidade de vê-los, não faltem. Sem contar que a música de Onqotô, um trabalho de Caetano Veloso e José Miguel Wisnik, foi especialmente composta p/ celebrar os 30 anos de existência da compagnia de dança. E aquelas vozes lindíssimas me fizeram viver arrepios de emoção. Impressionante. No começo da segunda parte, eu fiquei um pouco apreensiva por causa da música, samba, e fiquei com medo de estar assistindo à um cliché que os franceses adoram, à saber, que brasileiro e samba são sinônimos à qualquer ocasião e em unanimidade. Quer dizer, a coisa pode virar folclore. Mas não, meus receios foram infundados. A música é muito bem feita e a coreografia idem. Os dançarinos são perfeitos, com uma técnica tão clean que parece natural.
Lecuona, então! Eu nunca ouvi e vi com tanto prazer a música cubana em todo seu esplendor.
Não conhecia o trabalho do compositor cubano Ernesto Lecuona e nem dos intérpretes da música, dos quais não sei ainda os nomes, mas foi um grande prazer ouví-los. Um trabalho sobre relações amorosas, dependência no amor, liberdade, sensualidade, enfim, sobre nós, sobre nossa nostalgia, romantismo sobretudo e intrigas amorosas. Sensass! Eu quero voltar p/ revê-los no último dia, a única coisa que me freia é o preço; se eu não tivesse que pagar as minhas aulas de Pilates, a gasolina e o estacionamento que está de mais em mais caro aqui em Montreal, seria uma decisão mais fácil. Vamos ver o que eu decido até lá.



k.
Wings: Writing, Flying and Huevos Revueltos
http://montrealswinds.blogspot.com