Writing, Flying and Huevos Revueltos

May 30, 2008

Ser brasileira..... será que tem diferença?!

No final de 2005 ou começo de 2006, eu descobri um site sobre brasileiros que viviam fora do país. Eles nos pediam para preencher um formulário, em forma de entrevista, na web. Na época, tinha bem poucas entrevistas, tanto que eu preenchi o meu formulário e deixei para enviar depois de ler algumas e ver o site em geral. Só que na época eu tive problemas com o computador e depois de alguns rolos, acabei me esquecendo de enviar a entrevista. O tempo passou e eu me esqueci do caso. Só agora é que, reavendo alguns docs antigos que recuperei na época, dei de cara com a entrevista que eu tinha feito. Mas o tal site já não existe mais!
Para encurtar a história, coloco aqui o que eu preenchi na época:


Entrevista. Seja um pesonagem do Identidades

Pra começar, descreve um pouco de ti. O que fazes, profissão, trabalho, interesse.
Eu sempre digo rindo que saí do Brasil por causa de um poema de um japonêss chamado Matsuó Basho, que viveu por volta de 1660. Culpa do poeta japonês e de um jornalista gaúcho que se chama Eduardo Bueno, que nunca conheci, mas que foi colocar o dito poema no livro Alma Beat, o que selou o meu destino pois li o livro e três frases do poema ficaram martelando na minha cabeça : “Luas e sois são viajadantes da eternidade. Os anos que vêm e que vão são viajantes também. Os espíritos do caminho me fizeram inúmeros sinais, e eu descobri que não podia mais continuar trabalhando e tinha que partir”.

Antes de ler o poema, eu já tinha ido p/os EUA várias vezes de férias e lá conheci vários europeus que viviam me convidando para conhecer seus países. Na mesma época, alguns amigos meus foram morar na europa, aí a vontade aumentou, né?! Trabalhando no Banco do Brasil, eu estava profissionalmente descontente porque a minha ambição era desenvolver um trabalho com artes; mas a verdadeira razão é que eu sempre gostei de viajar, conhecer outros povos, outras culturas, sempre fui curiosa por tudo, e estava também bastante desiludida com a situação política e econômica do país. Um dia eu olhei ao meu redor e vi que nada do que eu vivia me interessava. Foi aí que li o poema e logo soube que ele estava me falando, foi uma certeza absoluta pois senti que os espíritos do caminho me faziam realmente inúmeros sinais. Aí eu pedi por 2 vezes uma licença para ficar 1 ano viajando fora do Brasil, o que era permitido no banco, mas o gerente da agência aonde eu trabalhava e que tinha o apelido de Vaca Brava, não me deu autorização. Depois de esperar em vão pela autorização e cansada de só ficar no país presa à um emprego que não me oferecia mais alguma satisfação pessoal, eu pedi demissão. Imediatamente peguei um avião p/ Orlando porque já tinha um emprego em vista lá e queria juntar grana para ir para a Europa. De lá, fui passar o natal em Montreal, no Canadá e o passeio que deveria durar 15 dias, dura até hoje. Fui ficando por aqui porque eu adoro esta cidade. À partir do Canadá, fui conhecendo o mundo, fiz faculdade de Artes Visuais e mestrado em Comunicações, obtive várias subvenções do Conselho das Artes do Canadá e do Quebec e de outros orgãos governamentais para desenvolver pesquisas com artes e novas tecnologias, recebi prêmios internacionais por meus trabalhos e vivo muito feliz por aqui com minha família; também adoro escrever e no momento estou trabalhando numa série de contos, e tenho um blog no http://montrealswinds.blogspot.com

Por que saíste do país? Qual o motivo de estar vivendo aqui?
Vim p/ o Canadá só p/ visitar uma amiga, mas fui ficando porque queria viver numa sociedade menos machista que a brasileira e ao princípio foi isso que me seduziu em Montreal, pois sendo mulher eu sempre fui muito mais livre aqui.

O que mais gosta daqui?
Tranqüilidade e segurança (poder andar sózinha no meio da rua à qualquer hora do dia ou da noite sem me preocupar), diversidade cultural, fácil acesso à cultura e educação, objetividade, pragmatismo. De neve caindo, das cores do outono, da beleza da primavera. Dos meus amigos.

O que menos gosta daqui?
De sete meses de frio (três daria p/encarar numa boa), do pouco senso de civilidade da população, da introspecção das pessoas, da xenofobia, do individualismo que pode também ser uma coisa boa dependendo do contexto. Da repressão e ridiculização da sensualidade feminina.

O que mais sente falta do Brasil?
Do sol sempre presente, do bom humor, do interesse geral por outros povos e culturas, da abertura de espírito, da inteligência, da civilidade, da riqueza cultural, da espontainedade, humanismo e dinamismo, da faculdade de improvisação, de cocada, de acarajé, de muito sorriso, de sensualidade, de forró.

O que menos sente falta do Brasil?
Da violência, da insegurança, do machismo, da ignorância das classes abastadas, dos resquícios da escravidão, do abuso de poder e petulância com pessoas que estão em posição socialmente inferior, do fato de que muita gente considera trabalho manual degradante, da falta de respeito endêmica por empregadas domésticas, da superficialidade, da falta de cultura e presunção de uma certa burguesia que passa o tempo assistindo televisão. Do ufanismo. Da mania de julgar os outros pelas aparências. Do complexo de inferioridade perante o estrangeiro. Da zoada futebolística dominical -ainda bem que o maridão aqui não é disso, cruz credo!-. Tenho também a mais completa incapacidade de respeitar gente que chega atrasada à um compromisso, pior ainda se é profissional, neste caso está definitivamente riscado da minha agenda. Ah, ia esquecendo, e do pedantismo de certos intelectuais que usam e abusam de um linguajar arcaico, a velha mania de falar difícil e não dizer nada.

Queres voltar ao Brasil? Quando? Planos futuros?
Não sei. Não tenho planos definitivos.

Tens algum objeto ou algo que te lembre o Brasil, que entendas como parte da tua identidade brasileira?
Tem gente que usa palitinho de dente, o que eu detesto, me dá um nojo danado e infelizmente esse é um costume bem brasileiro, dá vontade de jogar a pessoa (homens na maioria dos casos), os palitinhos e a bandeira do Brasil pela janela. Mas isso eu só citei por me lembrar, prq aqui em casa não entra este negócio... rsos.... Mas tenho uma obra de valor inestimável que é um dos álbuns de fotografia de meu bisavô, com fotos de toda a família desde 1840, o nascimento da fotografia no Brasil. Tenho quatro redes, uma que coloco na minha varanda no verão. Aqui tem também uma bandeirona do Brasil p/ sair na rua quando o Brasil joga na Copa, uma porção de revistas Veja e gibis da Mônica, do Cascão, da Magali e do Cebolinha, vários DVDs de séries de TV, uma bola de futebol bem brasileira, uma peteca também bem brasileira que aqui ninguém conhece, o Aurélio, uma porção de livros de autores da terrinha (tenho até o Alquimista, juro....e também tenho autor brasileiro em francês, pode?), cassetes de camdomblé, muito Cd de música brasileira, tenho também aquele negócio de fazer misto-quente direto no bocal do fogão, que aqui não existe e nem dá p/ fazer porque o fogão é elétrico, tenho aquele abridor de lata bem primitivo que aqui é proibido porque é perigoso mas eu prefiro que qualquer outro, de vez em quando tem bombom Garoto que compro na lojinha do chinês, tenho um poster muito bonito da cidade de Mariana, MG. Tenho sabonete e incenso de casa de macumba p/ afastar mal olhado que trouxe p/ amigos e nunca dei, chinelo havaiana, camisas de futebol verde amarela, um cafona cristo redentor de madeira, uma porção de ervas medicinais que comprei numa ferinha em Rio Claro, dois vasos lindos de cerâmica marajoara, panelas de ferro de Minas Gerais, castiçal e saboneteira em pedra sabão também de Minas. Ah, aqui em casa tem até um tatami que meu marido comprou na Liberdade, acredite quem quizer. Tem também chá mate e cuia autêntica gaúcha p/ beber chimarrão e um berimbau quebrado que a gente não sabe concertar e nem tem a coragem de jogar fora.

O que é ser brasileiro/a pra ti? Na tua opinião qual seria uma característica típica brasileira? Tu a tens?
Não conheço nenhuma definição do que é ser brasileiro porque acho que isso não existe, a tal definição. Esta idéia está muito ligada à um monte de clichês, como tem gente que pensa que ser brasileiro é ser espontâneo, ou solidário, ou sambar bem. Peguei a solidariedade, que dizem que é do brasileiro, e pinguei um pouco do bom senso canadense. Mesmo se conheço uma porção de canadense sem bom senso e muito brasileiro egoísta. Fiz a mesma coisa com a espontaneidade, mas respeito o espaço de cada um e defendo o meu. Sempre fui independente, gosto de gente, mas não gosto de viver em bando. Não vou dizer que brasileiro é entrão, mas também não direi que canadense é frio. Isso tudo é clichê. Cada um tem sua própria personalidade, enriquecida com as experiências acumuladas e influênciada pelo meio ambiente (educação, classe social, clima, etc.). Tudo isso influencia o comportamento. Um exemplo: eu sambo mal, não gosto de churrasco - sou vegetariana- nem de futebol, nunca chego atrasada em lugar nenhum. Conheço muito “não-brasileiros” que sambam que é uma beleza, só vivem em festas de arromba e estão em todas, de fio dental, plumas e paetés.

Te sentes mais ou menos brasileira por viver fora do país?
Conviver e me fusionar com outras culturas é uma riqueza inestimável, e isso não afeta a minha identidade básica, isso me enriquece culturalmente e espiritualmente porque me ajuda a compreender que o ser humano é muito parecido mesmo pertencendo à culturas diferentes. Brasileira eu serei sempre prq acho que somos direcionados pela primeira infância. Claro que eu aprendi uma porção de coisas, perdi algumas ilusões e ganhei outras, mas a minha base continua a mesma. O que talvez tenha mudado é a percepção que as pessoas têm de mim, porque elas sabem que eu saí do país e que convivo com outras culturas. Mas finalmente, eu sempre me considerei uma pessoa sem grandes apegos e muita curiosidade, mas nunca fui de me catalogar nem catalogar os outros. Decidi que sairia do país já desde os 6 anos de idade porque na época alguém me disse que na Inglaterra existia galinha de duas cabeças e eu sempre quiz ver isso de perto. Acho que nasci cidadã do mundo mesmo se a educação que me deu uma base e que ajudou a formar a minha identidade foi uma educação brasileira. Eu vivo muito bem em Montreal, como vivo no México, como vivi em Salvador, como viveria em Londres. Só não gosto de Paris p/ viver, só p/ passear, como também não gosto de viver em Niterói, por exemplo, ou Toronto ou Atlanta. Acho que tenho uma base muito profunda e não é mudando de lugar que ela será afetada.

Resumo a coisa assim: adoro um certo tipo de comida e posso comer isso em qualquer lugar porque sei aonde encontrar e como preparar a comida que gosto e sobretudo, não dependo de ninguém p/ cozinhar p/ mim. A minha comida é deliciosa porque eu quiz aprender a fazê-la deliciosa, e é um prazer compartilhar a mesma. Se não encontro o que quero, como outra coisa parecida, mas nunca fico com fome. Adoro restaurantes de qualidade e não me importo de pagar caro p/ ter o que quero, mas isso não é essencial. O essencial é que eu sei do que gosto e do que não gosto, dos meus limites, das minhas capacidades, e de quem eu sou. Entendeu?

Algo mais?
Um grande abraço à todos!


Brasileiro/a de onde? Montreal, canadá.

May 26, 2008

Chicago

Chicago é para mim, uma das cidades mais lindas do mundo. Em todo caso, na América ela é a que tem uma atmosfera realmente féerica e ao mesmo tempo profundamente ancrada na terra, no presente mesmo, na arte, na arquitetura, no chão, nas necessidades diárias. E com uma grande dose de fantasia. Um pouco como se a gente estivesse em outra realidade espaço-temporal. A impressão é de se estar em Gothan City! Desta óptica, ela é realmente a cidade mais linda das Américas, embora em beleza Rio, Buenos Aires ou Salvador sejam comparáveis, eu diria mesmo que esteticamente o Rio é mais bonito em beleza natural, mas Chicago tem uma alma real e que podemos quase tocar, coisa que eu não vejo mais nestas outras cidades. Eu, em todo caso não vejo.
Chic, amável, poética e infinitamente cultural, ela nos procura de seus braços abertos.

Chicago é a Paris americana.

Leiam tbém este post aqui aonde eu explico a imagem de Gothan City. Vejam mais fotos aí embaixo.









Em Cuba




O kitish dos presépios que eu gosto






Nada mais kitish do que presépios; é por isso que eu gosto. O natal já passou há tempos, eu sei. Mas como eu adoro presépio e como tirei estas fotos de 2007/2008 e como não estava aqui na época, não postei. Agora, é um prazer que eu me dou de colocar as imagens do meu presépio. Lindo, lindo, lindo!

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Meus comentários desapareceram do blog...

o que fazer?

May 25, 2008

Acho que voltei...

Depois de ter ficado mais de 1 ano sem escrever no blog, eu acho q voltei.

E outra novidade é que coloquei espaço para comentários, o que eu tinha tirado há séculos....