Writing, Flying and Huevos Revueltos

June 04, 2007

...porque sem asas ninguém vive.

Tem gente que tem cachorro, gato, passarinho. Eu tenho árvore. Não tem nada mais que faça tanta parte de mim quanto as árvores, os cavalos e os lobos. Gosto, mas não pode me pertencer nem depender de mim. Gosto da liberdade e p/ mim estes são os 3 seres que carregam este conceito neste mundo. Fora deles, existe o vento e a água, que não são seres p/ a maioria das pessoas, mas são p/ algumas; pode parecer loucura. Em realidade, eles todos fazem parte de um conceito maior. Eles e as asas, porque sem asas ninguém vive.

Aprendi q a gente sempre se decepciona qdo vive na espera. Espera é besteira. Coisa válida é o momento que se apresenta p a gente olhar ele no temporal do infinito q vai se abrandando. E assim a gente vai ficando forte. De tanto ver instante.

Li alguém falando q tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. Eu, grávida, sentia o cheiro da alma das pessoas! Coisa estranha prq é meio incompreensível, mas é verdade. Já vi muita coisa estranha na vida mesmo. Pensamento então... nem se fala!
Um dia, eu andando na rua, um homem de terno e gravata, bem arrumado, aprumado, cabelo cortado, parecia limpo, com uma pasta na mão, veio na minha direção, assim como várias outras pessoas andando p aqui e p lá no meio da vida. Mas de longe eu já senti o fedor que se exalava dele e q foi a coisa mais terrível q eu senti na vida.
Virei p/ o outro lado e vomitei no chão qdo ele passou por mim. Uma porção de coisa, parece, saiu com o vômito do cheiro, tanto q eu fiquei até fraca me segurando no poste, com medo de cair no chão e aquela sensação que tudo dentro de mim tinha se rebelado. Não me lembro de mais nada dele, só o horror do fedor.

Minha filha qdo nasceu, deixou dentro da casa um perfume inebriante mesmo, perfume tão bom que durou muito tempo no ar.
Era um perfume de flores, de saudade perfumada de amanhecer, de reconforto de cama quente e limpa, de tranquilidade de fio fino de chuva ondulando na janela. De vez em quando o perfume ia ficando mais forte; outras, diminuía. Às vezes, até parecia q ia morrendo. Aí a gente esquecia dele, mas depois, em uma hora qualquer, o perfume voltava, tão tranquilo e firme como antes. Qdo ela tinha 4 meses, nós mudamos de casa. Depois, eu não me lembro. Mas ela sempre teve um perfume que não é do corpo, mas coisa de alma de gente serena, assim como ela é.

E a alma dos q me rodeiam é tão suave e perfumada q eu respiro esse cheiro de coisa boa e paz o tempo todo. Constato que tenho à minha volta gente perfumada lá de dentro deles e de mim, graças à Deus a minha existência é floral, tipo jardim inglês, selvagem, puro, límpido.
Aonde tem, como em todo lugar, as suas ervas daninhas; mas elas não são nada ao lado do q é bom na minha vida perfumada. Elas são é até muito úteis prq eu aprendo à observar a dor e ver q dor é escolha. Cortar o q não é bom, mesmo se dói. Dor.
Dor sempre passa.

Mas q a vida é perigosa, lá isso ela é.

Qdo minha filha tinha 4 anos, ela me pegou pela mão e me levou até o banheiro. Abriu a privada e me disse: - mãe, abre a gavetinha da tua cabeça e joga o q causa dor lá dentro. Aí eu fiz, curiosa. Ela então pegou e deu descarga. E eu fiquei assim, abismada, vendo o ser q a Existência me deu p/ tomar conta.
Como então não ter reverência por um ser como este?

Já vi muita sabedoria na vida, assim como fantasmas, alegrias, pôr de sois, sombras obscuras e gente fantasiada, mas o q eu gosto muito é da sabedoria dela. Nunca vi tanto amor habitar um ser.


(Este texto foi publicado em 1996 pelo Jornal de Criação Literária da Universidade de Montreal).
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