Writing, Flying and Huevos Revueltos

January 23, 2006

As Bruacas e o Xamã

Foi uma semana rica e esperta, teve de tudo, até o renascimento de uma antiga surpresa. Vi amigos e conhecidos, dançamos muito, rimos à rôdo, gritamos e pulamos nas poltronas, e conheci novas pessoas sinceras e profundas. Mas revi pessoas que carregam uma certa dose de agressividade e frustações interiores, e que já me incomodaram muito no passado mas que a distância necessária me fez esquecer. Ter presenciado as larvas da frustação alheia se infiltrarem no meu ar, e claro, às custas da minha pessoinha, é algo que continua à me incomodar, tenho que reconhecer.

Mas eu tenho uns amigos geniais, realmente geniais. Eles são engraçados, inteligentes, cultos, ousados, destemidos e filósofos. O que me ajudou foi isso porque depois de ter sido sorrateiramente envenenada no sábado com a frustação de duas bruacas mal-amadas, tive encontros maravilhos no domingo de manhã com o meu osteopata budista e à tarde, no batizado do filho da Ângela e do André, com familiares e amigos deles que são pessoas verdadeiramente interessantes e honestamente interessadas; e à noite, no jantar na casa do Fábio, comemos uma muqueca baiana "verdadeira". Ramon até tirou o leite do xuxu... (sabiam que a gente faz isso na verdadeira muqueca? sabem o que é tirar o leite do xuxu?). Quem cozinhou foi o Cláudio, e estava uma delícia. Além do mais foi oficialmente a primeira vez que eu comi peixe. Sim mes dames, comi peixe!

A semana me provou mais uma vez que o inferno de cada um neste doce mundo é criado por ele próprio.

Antes de nos deliciarmos com a muqueca, nas nossas conversas espirituais, e outras nem tanto, o Fábio me falou sobre Os Quatro Compromissos, de Don Miguel Ruiz, que são hábitos e conceitos simples que todos conhecemos mas que na rotina deixamos de praticar. E que são, de verdade, uma simplificação da filosofia de Buda.

Eis os 4 compromissos (decisão íntima e pessoal):


  1. Palavra impecável: Falar com integridade. Não mentir. Não falar mal de si nem dos outros. Não minto quando digo que as duas bruacas são invejosas e mal comidas. Só que sou um pouquinho agressiva com a miséria delas, pobres coitadas. Vou tentar arreparar isto... Anyway, a palavra justa é o acordo mais importante que podemos ter consigo mesmo e o mais difícil de se cumprir. Parece simples, mas é extremamente poderoso. A palavra é o poder que temos de criar. A palavra é força; é o poder que possuímos de expressão e comunicação, de pensar e de criar os eventos da nossa vida. A palavra seria a mais poderosa ferramenta que possuímos como seres humanos. A palavra engloba a dose de energia, boa ou má, que imprimimos no nosso falar. Assim uma pessoa simples ou mesmo sem instrução pode falar de forma inatacável. Uma outra pessoa, letrada, pode falar de forma maledicente, invejosa, vingativa ( ...as bruacas); nesse caso, estaria falando de forma deficiente. A palavra justa inclui não mentir e não falar mal dos outros nem de si mesmo, e nem de situações (eu já disse que tenho que aprender...).
  2. Não reagir à nada de maneira pessoal: O que eu não estou fazendo. Quando as 2 bruacas, por exemplo, ficam ciumentas porque segundo a palavra de uma delas "sou o centro das atenções" e eu sei que as 2 gostariam de estar no meu lugar, tento enxergar nesta reação das ditas cujas a loucura pessoal de cada uma. E a minha loucura também porque mesmo se estou injuriada neste momento, nem por isso sou inconsciente. Sou responsável. O pior é que elas se incomodam comigo pela minha maneira de ser, não porque eu fiz algo contra elas ou contra alguém. Existo e me exprimo!
  3. Não fazer suposições: Ter a coragem de fazer perguntas e exprimir seus verdadeiros desejos. Comunicar claramente para evitar tristeza, equívocos e dramas (uma delas já me confessou, num momento de fraqueza ou anseios espiritualistas e quando ela fazia terapia, que seu sonho desde pequena era ser o centro das atenções, o que eu conseguia relativamente bem, mas confesso que sou só curiosa e gosto de me comunicar quando o assunto em pauta me interessa, não porque goste de ser o centro das atenções. Mas a dita voltou aos seus antigos demônios depois de ter ficado anos luzes sem cruzar a minha digna pessoa; por quais cargas do diabo, ignoro. Tá precisando de renovar a terapia ou a prescrição de prozac).
  4. Dê o melhor de si mesmo: Isso eu aprendi com a vida. Sem comentários.

Nota: Quando uso o termo BRUACA, não estou querendo dizer que a figura é feia, não. Falo da palavra no sentido de peso, pois antes, lá no tempo dos Bandeirantes, todo o material levado pelos burricos e pelos escravos eram colocados dentro de bruacas, ou broacas (bolsa de couro grande). E normalmente, eram carregados para aliviar as costas de um outro, no caso, os mestres que só queriam ficar no bem bom. Bruacas são pesos, estorvos, coisas que nos dão dor nas costas e a vontade de jogá-las no meio do caminho, enfim, coisas que a gente só carrega se for por obrigação.

Ouvindo Nick Cave And The Bad Seeds: Red Right Hand e The Ship Song .
E vendo e ouvindo o Caetano, no vídeo abaixo, q é p exorcisar a raiva.