Writing, Flying and Huevos Revueltos

May 30, 2006

"Murder Mysteries"

Sandman


Neil Gaiman


Creio que já falei de Sandman no blog, como já falei de Carnivale também. Estes dois trabalhos são na minha opinião dois exemplos perfeitos de como contar uma boa história.

Neil Gaiman, que além de escritor é também jornalista musical, é o autor de “Sandman”, “Death” e “American Gods” -que são graphic Novels- e vários outros livros como “Neverwhere”, “Coraline” e “Smoke and Mirrors”. Os fans de Gaiman o descobriram graças à Sandman: o senhor dos sonhos -herói gótico, tenebroso, charmoso, elegantemente existencialista, tanto romântico quanto mórbido-. “Sandman” ganhou uma quantidade impressionante de prêmios, sobretudo o World Fantasy Award, que recompensou pela primeira vez uma história em quadrinhos. A continuação de Sandman, “Death”, foi considerada a série de quadrinhos p/ adultos mais vendida na História, com mais de 300 000 exemplares.

Em 1999 Gaiman adaptou 2 estórias, "Snow Glass Apples" e "Murder Mysteries" (“Smoke and Mirrors”), para um drama radiofónico produzidos pelo Sci-Fi Channel. "Murder Mysteries", um dos meus contos preferidos, conta a história de um scenarista que ouve de um desconhecido de Los Angeles a lembrança de um dia ter sido o Anjo da Vingança enviado por Lúcifer p/ desvendar o assassinato misterioso de um anjo num universo aonde o conceito mesmo de morte era totalmente desconhecido e numa época anterior à caída dos anjos ditos rebeldes. Ouvindo a estória, o homem será de pouco em pouco seduzido pela convicção e detalhes das informações fornecidas; quando o estranho se vai - não sem deixar de sussurrar-lhe um segredo-, todos os parâmetros de universo e identidade são re-questionados. Nós, observadores da cena e da solidão de cada um, ficamos com uma pertubadora sensação de saber quem é ele, e ao mesmo tempo com o medo de estarmos enganados.
Gaiman nos re-localiza incessantemente num mundo de incertezas e nos diz que esse é o nosso lugar, não importa aonde ele se encontre. O interessante é que começamos a amar esta liberdade.

Querem ouvir um pedacinho de "Murder Mysteries" ?
Download: MP3 [5.1 MB] Stream: Real Media



k.
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May 29, 2006

Comunicar não é trocar unicidades


Comunicar não é trocar unicidades - é partilhá-las: idéias, experiências e gargalhadas, sobretudo gargalhadas porque não gosto de rir sózinha embora eu o faça de vez em quando e o pior é que isso pode acontecer no meio da rua quando uma lembrança passa inadvertida na minha memória (e isso pode acontecer muito se vc é uma brasileira que vive no Canadá).

Ouvindo a música obstinadamente chata que a minha vizinha faz questão de partilhar com meus ouvidos indefesos, eu fico totalmente de acordo com uma das máximas do Sartre, mas nas minhas esclarecedoras visitas aos meus mundos submersos, certifico-me que infernal mesmo seria viver solitária sem mesmo partilhar um sorriso, muito menos uma gargalhada. Aí então o pensamento de Sartre me parece errado pois com um certo nível de profundida sou capaz de ver claramente que o inferno é nos centrarmos sobre nós mesmos. O problema com Sartre é que ele era muito feio e segundo a Simone de Beauvoir, muito ruim como amante, além de ter nascido francês o coitado; isso porque o francês tem fama de ser um bom crítico, bom gourmet, ranzinza, bonito, charmoso e bom de cama, além de não gostar de banho. O que sobrou p/ o Sartre foi ser bom de mesa e de filosofia.


Mas quanto às minhas gargalhadas, ironias ou discriminações: no meu dia à dia, só sou politicamente correta quando sou obrigada pois além de ser mercuriana, trabalho no ramo de comunicações; isso me dá a liberdade total de rir de gente que diz que fez operação de pênis ao invés de operação de apêndice, de gente que opera o pênis para tirar o crepúsculo, de gente que diz que o sogro morreu com chifres do rei da Itália ao invés de sífilis hereditária (Alexandre Soares Silva). Enfim, todas são frases e situações sensacionais pois me dão a oportunidade de rir a rodo. É quase como no tempo em que minha filha, não conhecendo profundamente o português (sua língua materna é a francesa), dizia “homem careco” entre outras preciosidades linguísticas, o que tinha a sua dose de charme.
Finalmente, o grãozinho deste post surgiu com uma citação de uma frase de Miguel Esteves Cardoso, no Blog Bomba Inteligente : 'Eu também' é a resposta mais bonita a tudo o que se possa dizer. Pergunta-se 'Porque é que me sinto sozinho?' e a resposta certa é 'Eu também me sinto sozinho'. Não é 'Foi porque fizeste ou não fizeste isto ou aquilo e é isso que tens de fazer'." Explicações de Português, Lisboa, Assírio & Alvim, 2001, p. 211.
Lendo a frase acima e rindo do post do Alexandre, eu me lembrei de pessoas que me cobram coisas quando são incapazes de sair do esplendor eterno em que se encontram fincadas. O meu grau de falta de atenção foi planejado? Não, aconteceu naturalmente e mesmo sem sofrimentos só porque sou uma viajante infatigável e aprendo com as experiências tanto minhas quanto alheias, dependendo do meu grau de empatia. Quer dizer, sofrimento, sempre tem até um belo dia em que a gente enxerga as coisas como elas são realmente.









k.
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May 25, 2006

Sentença proferida em 1487 no processo contra o prior de Trancoso

Anthropomorphik calendar 1997 by Dave McKean.

(Autos arquivados na Torre do Tombo, armário 5, maço7).

"Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi argüido e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos; de cinco irmãs teve dezoito filhas; de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas; de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas; de duas escravas teve vinte e um filhos e sete filhas; dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas, da própria mãe teve dois filhos.
Total: duzentos e noventa e nove, sendo duzentos e catorze do sexo feminino e oitenta e cinco do sexo masculino, tendo concebido em cinqüenta e três mulheres".


[agora vem o melhor:]

"El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou por em liberdade aos dezessete dias do mês de Março de 1487, com o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo e guardar no Real Arquivo esta sentença, devassa e mais papéis que formaram o processo".



k.
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May 24, 2006

B is for bomb

Anthropomorphik calendar 1997 by Dave McKean - November.

O documentário B IS FOR BOMB ganhou a competição online CANNES 2006, um grande sucesso com quase 44 000 visionamentos! A ganhante é Carey McKenzie, documentarista da África do Sul, mas a produção é americana. O curta é narrado por uma criança que conta, em modo alfabético, os efeitos negativos gerados pelo abuso do poder nuclear. O concurso foi organizado pelo National Film Board of Canada, em associação com o Short Film Corner, do 8 ao 22 maio último.
Quem quiser visionar o curta, é só clicar aqui!

Um outro vídeo muito bom, mas nada à ver com o concurso acima, é Spin dj is a god.



k.
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May 23, 2006

Helena Barbas: Imagens e sombras de Madalena





Imagens madalênicas de Julia Margaret Cameron

N. Loraux dizendo: [...]E a «Grande Deusa» faz a sua aparição como «Terra Mãe personificada». E as «Terras Mães multiplicam-se, «universalmente presentes», da Anatólia à Grécia e da Grécia ao Japão, passando pela África profunda». [...]e é novamente a mulher, reduzida à sua matriz[...]
O Que É Uma Deusa? História das Mulheres - Antiguidade..., p.50;

Caí sobre um excelente trabalho, de Helena Barbas, publicado na rede: Imagens e sombras de Santa Maria Madalena na literatura e arte portuguesas - a construção de uma personagem: simbolismos e metamorfoses -.

Agora, Madalena me leva de encontro com a febre atual do 'da Vinci Code' que eu ainda não assisti porque não tenho saco p/ ficar em fila. Vou esperar 1 semana p/ ver se o frenesi acaba. Mas confesso despudoradamente que eu li o livro; e pior, gostei. Mas deixa eu explicar antes que me joguem pedra ou cacá, como dizem os franceses lá de casa. Gostei simmmm... êpa, essa caiu aqui em cima... Pois é, gostei do livro muito embora não considere o Dan Brown um grande escritor mas o que me interessou foi a possibilidade de acesso da massa à certas teorias sobre mitos femininos. Pronto, falei. Agora, deixa eu explicar tranquilamente: o livro me seduziu pelo assunto tratado, pela capacidade do autor de massificar algo tão iconoclasta. Fácil? Então porquê vcs não o escreveram antes dele?
Em todo caso, vocês estão lendo as palavras de alguém que começou à estudar mitologia aos 13 anos de idade; aos 9 eu já tinha lido a bíblica de cabo a rabo, mais por uma necessidade de conhecimento do que por religiosidade; aliás, sou absolutamente anti-religiosa. Desde os 9 anos de idade me descobri adepta incondicional de Madalena; através de Madalena cheguei às imagens arquetipais das deusas antigas e das Virgens Negras. Madalena, p/ mim, é uma história entre eu e a imagem feminina primordial. Madalena, Ísis, Artémis, Hécate, Oxum, Eleyé.
O livro de Dan Brown pode estar representando uma sementinha na consciência - ou inteligência- de muita dona de casa febril justamente devido ao assunto tratado e, justamente, ele segue uma diretiva já prevista por Jung e exemplificada nas minhas palavras roubadas à Thomas Mann: a visão da beleza pura é o prenúncio da morte próxima- ou explicando em miúdos, estamos provavélmente observando o renascimento dos mitos femininos.

Fotografias de Julia Margaret Cameron, dos arquivos da George Eastman House.



k.
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May 19, 2006

Imigração Canadá




Nas últimas semanas recebi 3 msgs de brasileiros pedindo infos sobre o Canadá com finalidade de imigração p/ este paízinho frio.
Então, les voilà:

O Canadá é um país grande e com culturas diversas. Moro no estado do Québec, que é francófono e muito frio. Depois de uns 5 anos tenho muita dificuldade de suportar este frio, que começa em outubro e vai até maio (está frio agora, 22 de maio, embora todas as folhagens estejam verdes, mas o pior é que faz quase 1 mês que está chovendo todos os dias sem parar e não tem sol!!). Em todo caso, eu adoro Montreal e sou muito feliz de morar aqui, mesmo se preciso de mais vitamina D.

Para quem está pensando em emigrar do Brasil, o melhor é se informar com pessoas que estão aqui há menos de 5 anos e idéalmente o máximo de 2. Imigrantes que chegaram há mais de 5 anos estão muito distantes da realidade de novos imigrantes e a visão que temos, tanto quanto nossas prioridades, vão se distanciando com os anos. Eu sempre aconselho aos pretendentes à imigrantes canadenses à:
1. procurar por listas de discussão de brasileiros sobre imigração p/ o Canadá;
2. através destas listas, contatar pessoas com a mesma profissão, faixa etária e que morem na região almejada;
3. à pensar objetivamente sobre a capacidade ou não de aguentar um frio que, no caso do Québec, gira em torno de -15, -20 graus no inverno e que pode chegar até a -50 ou mais, com o vento em certos dias de dezembro. E se informar sobre a realidade do clima nos outros estados canadenses.

Frase preferida do quebequense: “meu país é o inverno”
P/ pessoas esportivas, ou em todo caso ativas, a adaptação será mais fácil, sobretudo se gostam de esportes de inverno.

Profissão
Em geral, tenho a impressão que um imigrante recém-chegado terá mais oportunidades numa província anglófona; talvez devido à proximidade cultural com os EUA aonde o pragmatismo prima, à uma abertura maior à influências de outras culturas, à uma cultura menos movida à clichés terceiro-mundistas, à inexistência de uma preocupação quase constante com a proteção de uma identidade cultural ? Não sei. Mas friso que esta é só uma impressão, opinião bem subjetiva. Pode até ser discriminação minha. Só estou dando uma dica p/ que o candidato à imigrante faça uma pesquisa profunda. Em todo caso, a competência e o interesse da pessoa de acompanhar as inovações no seu ramo de especialização serão ítens primordiais.

O povo
Clique aqui p/ ler o post: Culpa do poeta japonês.
leia tbém: How Polite We Are

Mesmo se a diferença com os franceses é grande, a cultura no Québec permanece européia, mas em nenhum outro lugar encontraremos uma fusão tão justa entre América e Europa. P/ brasileiros, algumas características podem irritar um pouco, como a falta de civilidade do povão em geral, mas isso nós não percebemos logo no ínício. Um outro problema que o brasileiro enfrenta aqui é o sentimento de invisibilidade que pode, contudo, ser transcendido e mesmo muito bem aproveitado. Segundo minha experiência, com um quebequense nós raramente teremos umas gargalhadas gostosas, mas por outro lado também raramente ouviremos algum comentário negativo sobre uma outra pessoa, e o mais importante é que eles respeitam compromissos e horários.

Minha escolha seria esta se ...
O estado de British Columbia, além de ter um clima mais clemente, oferece maiores oportunidades de emprego do que o Québec. Uma pesquisa deveria ser feita pelos interessados sobre a média climática no inverno. A cidade de Vancouver é muito interessante, o problema é a chuva omnipresente.

Sistema de saúde, o caos
No estado do Québec, um problema não negligenciável é a péssima qualidade do sistema de saúde em geral e dos médicos em particular. Não conheço pessoalmente a situação do resto do país. Não existem clínicas privadas e temos que enfrentar hospitais -urgência- e clínicas governamentais lotadas. É claro que existem exceções à regra, dependendo do dia e da boa estrela de cada um. Em Montreal, esta situação é a mesma depois que o governo fechou ao mesmo tempo 7 hospitais e cortou verbas p/ a saúde.

Aconselho à pessoas que querem vir p/ o Canadá de guardar um pé à terra no Brasil, e ao menos durante alguns anos, continuar pagando um seguro saúde. No caso de doença grave, é melhor dar um pulinho no Brasil p/ fazer examens ou mesmo cirurgias que pedem uma certa urgência (ou fazer como alguns que vão p/ a Índia se tratar nos hospitais de lá). Para os adeptos de medicinas alternativas, o melhor é ficar sempre em contato com o terapeuta ou médico brasileiro (conheci uma brasileira que enviava um e-mail p/ seu homeopata cada vez que precisava, ele prescrevia o remédio e alguém de sua família pagava a conta lá no Brasil); no que diz respeito à Montreal, é difícil achar um bom terapeuta naturalista, além de serem caríssimos e alguns mesmo perigosos (tive expêriencias ruins com homeopatas em Montreal, que não são médicos e, muitos, tristemente inexperientes).

Estudar aqui
A vantagem do Canadá é em relação aos estudos, relativamente baratos comparados aos EUA e mesmo ao Brasil. Mas confesso que estou completamente por fora deste assunto depois que terminei o meu mestrado e sem vontade nenhuma de começar um doutorado, como era meu plano.

Porque não a Califórnia, USA?
P/ quem gosta do clima do Brasil e do que é positivo na cultura brasileira, ótimas opções são as cidades de San Diego, Santa Mônica e Berkeley, na Califórnia.

Links

Canadá
Tapioca Congelada
Toronto para Brasileiros
Associação Brasileira de Alberta
Brazilian Community Association/BC

EUA
Comunidade brasileira na Califórnia
Jornal Brasileiro em San Diego
Camera de comércio Brazil/California
Bons preços de viagens p/ o Brasil



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