Writing, Flying and Huevos Revueltos

September 13, 2006

Tiroteio em Montreal (2)

Já é tarde. Estou escrevendo agora p/ dar as últimas notícias aos que estão me enviando msg. Estou cansada de falar. Esperei o telefone a tarde toda, estou cansada.
Estou mais tranquila. Minha filha já está em casa, sã e salva. Ela me contou que quarta-feira é o único dia da semana em que ela não vai comer no Dawson College com seus amigos, porque seu horário não permite! Estou até agora meia zonza.
Ela me disse que estavam em classe quando uma das amigas que tinha deixado o celular ligado (o que é proibido) recebeu uma msg-texto da sua melhor amiga :"tiroteio à Dawson" "estou escondida debaixo da mesa". Na mesma hora, a msg foi passando de boca em boca, e logo veio a confirmação. A menina conseguiu escapar, pois a polícia neutralizou o assassino antes que ele chegue nas salas de aula. Conversando com um de seus amigos que estuda no Dawson, agora no final da tarde, ele contou que estavam na cafeteria na hora do almoço quando apareceu de repente este cara atirando; ele atirava em todo mundo, não parecia escolher a vítima. Ele viu um que levou um tiro no pescoço, bem perto dele. Parecia ter um estilo punk, não disse exatamente porquê, mas não sabe se é um estudante. Ele disse que quando viu que era sério, que a arma não era de brinquedo, saiu correndo, sem pensar. No início, muitos estudantes pensavam que a arma era de brinquedo, até começar à ver que o sangue e a dor dos amigos era real.

A polícia já anunciou que o assassino tinha 25 anos, e que aparentemente estava agindo só. Isso mostra muita coisa, principalmente que na hora da afobação as pessoas vêm coisas inexistentes, como estas testemunhas, entrevistadas pelos jornalistas de vários canais de TV na ruas, que viram um homem armado ser cercado pela polícia no Shopping Center Alexis Nihon!!!

O triste é que morreu uma das meninas, de 20 anos. Não sabemos mais nada sobre as outras vítimas. Nem a identidade nem em que estado físico ou psicológico estão. Nem a identidade e as razões do assassino p/ um ato estúpido destes.

tiroteio em Montreal

Para as pessoas que estão tentando me telefonar p/ saber notícias: minha filha está bem! O colégio dela é do lado do colégio Dawson, aonde houve a fuzilaria, e ela sempre vai lá na hora do almoço p/ comer com os amigos. E justamente, as notícias começaram à correr à 12:40, e eu preocupada! Mas o problema é que todo o perímetro foi fechado e ninguém podia entrar. E começaram rumores de que um dos suspeitos fugiu dando tiros nas ruas. Não pude ir buscá-la à escola porque todo o centro da cidade perto da rua Sherbrooke, aonde é o colégio, está fechado, as estações de metrô e os ônibus que passam perto do perímetro também tiveram que parar de funcionar. Pude falar com ela pelo celular (um grande viva à technologia!) e ela está bem. A grande maioria de seus amigos estudam no colégio Dawson, ao lado, e ela conseguiu falar com a maioria e eles também estão bem. Sofrem um traumatismo, mas fisicamente estão bem.

Vi imagens pela televisão e vários estudantes estão gravemente feridos, tem muito sangue nas ruas e as pessoas correndo de um lado p/ outro. As imagens me fazem pensar em um país em guerra. As informações no momento são contraditórias: um dos suspeitos está morto, não se sabe com certeza se suicidou-se ou se foi a polícia que atirou. Também não sabem se foram estudantes. Sabe-se que um deles se vestia como punk, com cabelos Mowak. O suspeito correu até o shopping Center Alexis Nihon e foi cercado pela polícia no interior, mas não quiz se entregar.

Pensam que teve 2 ou 3 homens atirando, e os disparos começaram do lado de fora do colégio, à porta mesmo e foram entrando e atirando. No momento tem 20 vítimas que foram atendidas nos diferentes hospitais: 6 feridos em estado crítico, 4 em estado estável, e dois em estado grave; os outros não temos notícias. O suspeito que foi claramente identificado está morto, não sabemos se suicidou-se ou se foi morto pela polícia.

Por enquanto são as notícias que tenho. Tenho amigos que têm filhos que estudam neste colégio, mas ainda não pude falar com elas.

As ligações por telefone estão muitos difíceis porque todos estão usando o telefone. Então, não adianta me ligarem, mas gostaria de agradecer aos que já me telefonaram e que eu conseguí conversar com eles rapidamente mas ainda nervosa porque não tinha notícias claras de minha filha.

O português é a quinta língua mais falada no mundo, com 200 milhões de usuários



Sabiam que o português é a quinta língua mais falada no mundo, com 200 milhões de usuários?
Sabiam também que existe o
Museu da Língua Portuguesa na Estação da Luz, em SP?
Pois é, se vc quizer ouvir o poema Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, lido por Chico Buarque, e ouvir outras canções do exílio inspiradas neste poema e entre elas as engraçadíssimas "Migna Terra" de Juó Bananére* (1924) e a "Canção do Exílio" de Murilo Mendes (1931), tão atuais e eternamente verdadeiras p/ quem vive em exílio como nós brasileiros aqui no Canadá e em outras partes do mundo?
UUUffff, preciso de ar.....

Bom, vc terá que fazer assim (explico direitinho porque a navegação no site deixa à desejar p/ quem chega assim de repente):
- Clique no "Bem-vindo ao Museu da Língua";
- clique em "Praça da Língua";

- Logo vc vai ver embaixo os 4 espaços aonde poderá escolher ouvir e ler "Canção do Exílio" em diferentes versões. É só clicar e esperar.

* Conta a lenda que o personagem Juó Bananére foi criado pelo desenhista Voltolino, sócio de Oswald de Andrade em "O Pirralho", mas quem insuflou energia ao italiano do Bexiga que fala uma mistura de português e dialeto napolitano, foi mesmo Alexandre Machado que tinha herdado a coluna de Andrade e vestiu o personagem com um humor anárquico.

Leia aqui o "Migna Terra", mas vc tem realmente que ouvir, pois foi escrito p/ ser falado, p/ ter idéia do hilário da coisa.

Migna terra tê parmeras,
Che ganta inzima o sabiá.
aves che stó aqui,

Tambê tuttos sabi gorgeá.
A abobora celestia tambê,
Che té lá na mia terra,
Tê moltos millió di strella

Che non tê na Ingraterra.
Os rios lá sô maise grandi
Dus rio di tuttas naçó; I os matto si perdi di vista,
Nu meio da imensidó. Na migna terra tê parmeras
Dove ganta a galligna dangola;
Na migna terra tê o Vap'relli,
Chi só anda di gartolla.

. . . . . . . . . . .

Um outro poema de Juó Bananére:

Sunetto Crassico

Sette anno di pastore, Giacó servia Labó,
Padre da Raffaela, serrana bella,
Ma non servia o pai, che illo non era trouxa nó!
Servia a Raffaela p'ra si gazá c'oella.
I os dia, na speranza di un dia só,
Apassava spiano na gianella;
Ma o páio, fugino da gombinaçó,
Deu a Lia inveiz da Raffaela.
Quano o Giacó adiscobri o ingano,
E che tigna gaido na sparella,
Ficô c'um brutto d'um garó di arara,
I incominciô di servi otros sette anno
Dizeno: Si o Labó non fossi o pai d'ella
Io pigava elli i li quibrava a gara.

Juó Bananére

. . . . . . . . . . . .

Pena que não estou em SP agora, senão iria visitar o museu e ver a exposição temporária concebida por Bia Lessa sobre Guimarães Rosa. Fiz um copy/paste dos links que levam à Guimarães Rosa: