Writing, Flying and Huevos Revueltos

May 29, 2006

Comunicar não é trocar unicidades


Comunicar não é trocar unicidades - é partilhá-las: idéias, experiências e gargalhadas, sobretudo gargalhadas porque não gosto de rir sózinha embora eu o faça de vez em quando e o pior é que isso pode acontecer no meio da rua quando uma lembrança passa inadvertida na minha memória (e isso pode acontecer muito se vc é uma brasileira que vive no Canadá).

Ouvindo a música obstinadamente chata que a minha vizinha faz questão de partilhar com meus ouvidos indefesos, eu fico totalmente de acordo com uma das máximas do Sartre, mas nas minhas esclarecedoras visitas aos meus mundos submersos, certifico-me que infernal mesmo seria viver solitária sem mesmo partilhar um sorriso, muito menos uma gargalhada. Aí então o pensamento de Sartre me parece errado pois com um certo nível de profundida sou capaz de ver claramente que o inferno é nos centrarmos sobre nós mesmos. O problema com Sartre é que ele era muito feio e segundo a Simone de Beauvoir, muito ruim como amante, além de ter nascido francês o coitado; isso porque o francês tem fama de ser um bom crítico, bom gourmet, ranzinza, bonito, charmoso e bom de cama, além de não gostar de banho. O que sobrou p/ o Sartre foi ser bom de mesa e de filosofia.


Mas quanto às minhas gargalhadas, ironias ou discriminações: no meu dia à dia, só sou politicamente correta quando sou obrigada pois além de ser mercuriana, trabalho no ramo de comunicações; isso me dá a liberdade total de rir de gente que diz que fez operação de pênis ao invés de operação de apêndice, de gente que opera o pênis para tirar o crepúsculo, de gente que diz que o sogro morreu com chifres do rei da Itália ao invés de sífilis hereditária (Alexandre Soares Silva). Enfim, todas são frases e situações sensacionais pois me dão a oportunidade de rir a rodo. É quase como no tempo em que minha filha, não conhecendo profundamente o português (sua língua materna é a francesa), dizia “homem careco” entre outras preciosidades linguísticas, o que tinha a sua dose de charme.
Finalmente, o grãozinho deste post surgiu com uma citação de uma frase de Miguel Esteves Cardoso, no Blog Bomba Inteligente : 'Eu também' é a resposta mais bonita a tudo o que se possa dizer. Pergunta-se 'Porque é que me sinto sozinho?' e a resposta certa é 'Eu também me sinto sozinho'. Não é 'Foi porque fizeste ou não fizeste isto ou aquilo e é isso que tens de fazer'." Explicações de Português, Lisboa, Assírio & Alvim, 2001, p. 211.
Lendo a frase acima e rindo do post do Alexandre, eu me lembrei de pessoas que me cobram coisas quando são incapazes de sair do esplendor eterno em que se encontram fincadas. O meu grau de falta de atenção foi planejado? Não, aconteceu naturalmente e mesmo sem sofrimentos só porque sou uma viajante infatigável e aprendo com as experiências tanto minhas quanto alheias, dependendo do meu grau de empatia. Quer dizer, sofrimento, sempre tem até um belo dia em que a gente enxerga as coisas como elas são realmente.









k.
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