Writing, Flying and Huevos Revueltos

November 25, 2005

A Violência contra as Mulheres


Estudos em diversos países mostram que de 25 % à mais de 50 % das mulheres contam ter sido abusadas fisicamente por um compaheiro. A maioria foi vítima de abuso emocional e psicológico.

O abuso sexual é não somente comum mas difundido na maioria dos países. No Canadá, um estudo feito em 1993, baseado nos relatos de 420 mulheres aleatoriamente selecionadas, revelou que mais de 54 % delas tinham sofrido uma experiência sexual não desejada ou intrusiva antes de 16 anos; 51 % foram vítimas de violência sexual ou tentativa. Em 25 % dos casos, as mulheres violentadas fisicamente foram explicitamente ameaçadas de morte.

Nas Ilhas Barbadas, 1 mulher sobre 3, e 1 à 2 homens sobre 100, contam terem sidos sexualmente abusados durante a infância ou adolescence. No Peru, um estudo revelou que 90 % das jovens mães de 12 à 16 e pacientes de um hospital, foram violentadas pelo pai, por um padrasto ou por um próximo. Na Costa-Rica, 95 % das pacientes grávidas de um hospital, menores de 15 anos, foram vítimas de incesto.

Na India, onde a prática do "bride burning" é um costume tradicional, os registros oficiais da polícia mostram que 4.835 mulheres foram assassinadas em 1990 porque suas famílias não puderam dar o dinheiro do dote. Na região de Bombaim, 1 em cada 5 mortes de mulheres entre 15 e 44 anos foi considerado "morte acidental por queimadural".

A maior parte dos casos de violências contra mulheres acontece geralmente em seus próprios lares e os violentadores são homens conhecidos por elas. No Canadá, 62 % das mulheres assassinadas em 1987 morreu nas mãos de seus maridos. A violência durante a gravidez foi apontada como a causa principal de abortos e o baixo peso dos recém nascidos. Na Cidade do México, um estudo revelou que entre 342 mulheres aleatoriamente escolhidas, 20 % delas tinham sofrido golpes no estômago dos companheiros, durante a gravidez. Na Costa-Rica, um estudo realizado com 80 mulheres agredidas por seus companheiros mostrou que 49 % delas foram agredidas durante a gravidez e 7.5 % sofreram abortos em consequência destas agressões.

* Estes dados foram extraídos de um documento entitulado Violence Against Women, deste site aqui, de janeiro de 1995, tirado por sua vez de um documento do U.N. Division for the Advancement of Women (sem data no site).

Pela eliminação da violência contra as mulheres


No Canadá, 6 de dezembro foi oficialmente instituído o dia para lembrar e combater a violência feita às mulheres. Este dia marca o aniversário da morte de 14 jovens, assassinadas na Escola Politécnica de Montreal, em 1989. Elas foram assassinadas pela única razão de serem mulheres. E também por terem sido aceitas em uma escola aonde o assassino foi barrado, e decidiu se vingar nas jovens que, segundo ele, tinham previlégios demais'.
A gente chega logo à conclusão, através da mídia, que esta violência é um fenômeno global e contra mulheres de todas as idades, que são ou foram violentadas, mutiladas e assassinadas. A violência sexista é tolerada em inúmeras sociedades com bases na crença que uma mulher é geralmente a propriedade de seu marido, pai ou irmãos. E esta violência é aceita, se não oficialmente mas tradicionalmente, e coberta frequentemente pela comunidade.
A edição brasileira da revista Marie Claire cita que no Brasil, a cada 15 segundos, uma mulher sofre algum tipo de agressão. Em compensação, essa mesma mulher leva de 10 a 15 anos para denunciar o seu algoz, acuada por medo, vergonha ou seja lá o que for. Subjugada à vontade masculina ou mutilada em nome de costumes milenares, estima-se que sete em cada dez mulheres vítimas de homicídio em todo o mundo foram assassinadas por seus companheiros.
Mas eu não posso deixar de pensar na violência contra as crianças e jovens, quando penso na violência contra as mulheres. Para mim, são atos intimamente correlacionados.

Alguns dados:
70% das mulheres vítimas de assassinato, no mundo, foram mortas por seus próprios maridos.
7 milhões de brasileiras acima de 15 anos de idade já foram agredidas pelo menos uma vez.
1 bilhão de mulheres do mundo, ou 1 em cada 3, já foram estupradas, espancadas ou sofreram algum outro tipo de violência.
A iniciativa desta blogagem foi de Denise Arcoverde, neste site aqui, aonde tem uma lista de vários outros sites que tratam do mesmo tema.

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O meu pensamento para as mulheres (e a violência que a muitas de nós teve ou tem que aturar), vai na forma deste conto:
Pássaros vorazes*
por k.s.


Conheci uma senhora cujas palavras fluíam fáceis e insólitas. Ela acreditava que certas mulheres são capazes de voar durante a noite, metamorfoseando-se em vorazes pássaros noturnos. Seduzida pela eloquência e teatralidade de suas próprias palavras, ela acrescentava eufórica a opinião que tais pássaros noturnos não são apenas mulheres velhas, e que todas são, finalmente, mulheres fatais.

Olhar imperturbável, ela me disse que o vôo noturno é uma característica das "bondosas damas", acrescentando com uma voz trovejante: "Pássaros vorazes de cabeça desmesurada, olhos fixos, bico afiado para a rapina, plumas brancas e garras tortas. Estes pássaros, sejam eles o fruto de uma reprodução entre sua própria raça, criados por um encanto infernal ou ainda, sejam sómente velhas senhoras metamorfoseadas, nós os reconhecemos sempre pelos gritos estridente com que amedrontam as noites . "

De resto, ela me revelou ter ouvido isso em algum lugar. E eu acreditei. Alguém certamente também acreditou ser uma boa idéia falar sobre o assunto. E ela ficava assim pensativa repetindo estas palavras, com o olhar perdido. Olhar de vingança. Esse era o seu passatempo predileto, sonhar com asas largas que a levariam à distantes províncias e lhe dariam a força de escapar. Ela sonhava em escapar. Escapar dos murros, dos muros, dos gritos, das ironias, dos insultos, das dores e dos silêncios.

Gestos e nomes apoiando os seus contares, numa destas ocasiões ela me falou do escritor que disse que a força das sereias está no silêncio! "No seu silêncio! Pode imaginar pior insulto !?".

Ela me contou também que um conhecido seu, passeando em Montreal às margens do canal e numa noite de lua, entendeu uma voz que perfurou o silêncio do matagal:
"Muitos gostam de acreditar que somos todas iguais, pela nossa voz estridente ou sedutora. Julgam que somos instrumento de perdição, que somos o sonho. Desiludam-se ! Somos o rosto cansado das velhas, o rosto apaixonado das jovens. Companheiras dos sonhos, com os animais elegemos nosso lar. Assim, temos uma forma bestial. Vejam aí só o que vocês sabem, pois no entanto, ignoram que mesmo sendo veneração, somos também horror. Horror e veneração.”

Quanto à mim, não sou velha ; sou relativamente jovem e bem correta. Meus urros, vocês não conseguem diferenciá-los no mais claro do dia. Mas quando a noite se desponta no alto dos edifícos cinzentos e que me vem este desejo de correr e gritar e gritar... gritar... e nunca mais parar... eh bem, nestes momentos, o meu corpo se contorse, treme... e eu tenho frio, tenho frio, tenho um frio de morrer... e as minhas asas, elas, se armam para cobrir o meu corpo e com estas asas trêmulas escondo a minha cabeça desmesurada, os meus olhos fixos, o meu bico afiado, as minhas plumas e as minhas unhas tortas. Os meus gritos não amedrontam a noite. Enrolo-me em mim mesma, como as minhas garras, e fico lá no canto, quieta, torta e doente deste silêncio.
*Este conto foi originalmente escrito em francês, Oiseaux voraces, e publicado em vários jornais e revistas.
K.S.
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