Writing, Flying and Huevos Revueltos

September 22, 2005

Mon ténébreux et indomptable héros - le filme "Immortel", d’Enki Bilal

Vraiment! j’ai toujours été très attirée par le monde de la BD. Gamine, même étant socialement sauvage, il y avait néanmoins quelques p'tits gars qui me couraient, intéressés par mes charmes et par ma collection de BD!  Les amis de mes frères et d'autres gars qui habitaient loin de mon quartier et même des complets inconnus, venaient souvent sonner chez moi pour échanger les héros Marvell.  J'étais la seule fille dans le quartier qui collectionnait les BD des héros Marvell, peut-être même que j'étais la seule de toute la ville et parai-il, ma collection était vraiment l'une des meilleurs - pour des jeunes fauchés qui nous étions-. Nous partageons le même intérêt, c’était magique -passionnant même-  ils étaient mes compagnons de poésie, puisque pour moi c'était la poésie que je voyait, et au contraire de ce que la plupart de parents croyaient à l’époque, ma mère surtout, j’ai beaucoup appris par le biais de ces histoires. C’étaient les seules occasions où je pouvais laisser mon imagination libre et sans entraves, même sachant qu’ils n’existaient pas vraiment; mais c’était un défi excitant pouvoir percer leurs univers irréels et je lisais en cachette de ma mère, qui détestait nous voir lire des BD, mais je lisais quand-même, et avec frénésie et émerveillement.

J’aimais aussi les contes de Grimm, de ma sœur, mas j’avais lu le livre au complet, lu et relu un nombre incalculable de fois. Même la bible je la lisais avec une soif, un abandon digne de Sainte Thérèse, mais par le seul plaisir de lire des histoires. Et je crois bien que j’ai lu l’ancien testament en intégral à neuf ans! Si quelqu’un m’aurait demandé à l'époque ce que contenait la bible, j’aurais pu décrire en presque minutie les générations des rois d’Israël, les guerres, les péchés et les amantes du roi David, la folie d’Absalon, la révolte de Tamar, la beauté et l’intelligence de la reine de Sabah, la sagesse de Salomon et un monde sans fin des naissances, vies, vices, morts, destructions, clameurs... et l’amour et la vengeance de Dieu. N’allez surtout pas croire que j’étais bien religieuse, mais non! Je lisais la bible avec le même plaisir que je lisais en cachette les ouvrages d’éducation sexuel très techniques pour les nouveaux mariés. Et je les lisais que pour lire des histoires!

En tout cas, j’étais accro des héros Marvell surtout parce que c'était le seul genre de lecture dont je pourrais me payer un exemplaire avec l’argent des menus travaux que j’effectuais à la maison ou que je recevais comme cadeaux lors des visites à ma grand-mère; je goûtais la coca-cola, le crème-glacée, le chocolat et d'autres sucreries que quelques fois par année juste pour pouvoir économiser cet argent, jalousement, et m’acheter mes héros préférés. Dans ce-temps-là, les histoires n’arrivaient que de deux en deux semaines ou plus, et qui n’avait pas un père riche devrait garder pour lui une seule histoire et échanger les autres après lecture (c'était l'époque de la dictature, de la répression sauvage, de la peur derrière les murs et susurres, et l'argent était difficile, les travaux rares et l'orgueil aussi). Cependant, on gardait toujours avec nous les histoires les plus aimées.

Adolescente, j’ai été éblouie lorsque mon bon vieux Batman est devenu un héros tourmenté et existentialiste, entouré de cette chère ombre ténébreuse qui nous séduisait à tous. C’était vraiment trop pour mon pauvre cœur déjà abîmé par la vie et les supplices de la révolte. Je suis tombé amoureuse de ce héros qui n’était plus comme les autres! Il est devenu mon ange noir, l’oiseau que je portais sur mes épaules souffrantes et avec lui j’ai traversé l’autre coté de l’océan pour pouvoir arriver à l’île de mes rêves. Il est devenu mon compagnon de voyage.

Tout cela pour dire que j’ai adoré la poésie du filme "Immortel", d’Enki Bilal. Si vous avez compris mon amour pour ce monde fantastique et si vous le possédez également, allez voir le filme.


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De como santo Antônio apareceu em Olaria, MG

Num texto entitulado História de Olaria, apresentado no frontíspício de um caderno editado pela prefeitura de Olaria, MG, sem data, é contada a história seguinte (como o texto é longo, trancrirei uma parte) :

"[...] o desaparecimento de um escravo chamado Isidoro, da Fazenda Passa Tempo, de propriedade do Coronel da Guarda Nacional João Caetano Rodrigues. Tal escravo era bem quisto na fazenda e a esposa do coronel Rodrigues, Sinhá Umbelina Josephina da Cunha, fez inúmeras orações para seu santo de devoção, pedindo a volta do escravo. Ela rezava terços pedindo a intercessão de Santo Antônio. Até que certo dia o escravo reapareceu e lhe contou uma história que lhe causou espanto e, logo foi transformada em 'milagre' pelo povo da região. A história é a seguinte: Perdido pela mata virgem, o escravo Isidoro vagou dias seguidos, comendo o que encontrava na floresta até que lhe aparecesse um homem misterioso, trajando veste escura e cordão amarrado à cintura. O homem lhe falou de Deus e, também, lhe mostrou o caminho para a casa de seus senhores.

[...] A história foi considerada como uma aparição de Santo Antônio, que passa a ser o novo padroeiro do povoado, além de ser motivo para sua nova denominação : Santo Antônio da Olaria. Anos mais tarde, Sinhá Umbelina fez promessa de mandar construir uma capela em homenagem ao Santo. A promessa foi cumprida e em 1872, de 16 a 19 de julho aconteceram as festividades de benzedura e inauguração da capela, que devido ao porte do povoado foi elevado à condição de Matriz.

[...] os progressos sofridos pela localidade no período de 1850 a 1920, foram graças, principalmente aos esforços dos coronéis João Caetano Rodrigues e Procópio Theolino de Paula. O primeiro agraciado com o título de fundador do Distrito e paróquia de Santo Antônio de Olaria. [...]"


Acrescentei esta história na Wikipédia, a enciclopédia livre, aonde é questão de Olaria, Minas Gerais. Tenho em minhas mãos o caderno no qual se encontra a história, cedido à mim por Adail de Oliveira em janeiro de 2004.

Donana

Dona Anna depois que casou-se com seu primo Elóy, acrescentou o nome "de Braga" ao seu. O Braga era nome antigo e quase nao visto na familia; naqueles tempos, as pessoas de vez em quando carregavam os sobrenomes dos avós e não sempre os dos pais, como por exemplo meu bisavô Elóy Praxedes de Braga, marido de Dona Anna, que era filho do Coronel João Caetano Rodrigues e de Sinhá Umbelina Josephina da Cunha. Donana, como era conhecida, não herdou o "da Cunha" de seu avô Francisco Rodrigues da Cunha e seus filhos homens guardariam o "de Oliveira', o "Rodrigues", o "de Paula" e as mulheres, o "Braga" que vinha lá dos idos de 1700 e poucos, de José Rodrigues Braga, o último Braga da lignée familiale até então. Este ultimo Braga era marido da matrona Bernardina Caetana do Sacramento; primos-irmãos, eles repetiam a tradição familiar casando-se entre os seus e assim os nomes só ficavam passeando de cá para lá.
Luiza Josephina, irmã de Elóy, casou-se com um outro "Rodrigues"que era também primo seu, filho este de Anna Lidoína de Mello; de nome Antônio, ele foi pai de minha avó Milota. Antonio era bonito e elegante, mas isso não era nada porque Luiza era também belíssima, além de ter uma personalidade forte e imponente.

Enfim, cada criança nascida na familia tinha uma quantidade grande de sobrenomes à disposição pois era costume usarem os nomes dos avós que não tinham sido passado aos filhos destes, coisa de dar continuidade e oferecer homenagem. Mas como nos registros só constavam os prenomes, quem se lembraria exatamente do nome da criança depois, se ele não era quase jamais escrito e só ficando na lembrança da mãe e alguns poucos? E às vezes não sobrava nada na memória de ninguém, nem da mãe, e assim era comum isso:
-Como te chama, menina?
-Anolinta, respondia ela sem saber que era Anna Olaya. De onde veio o Olinta, só Deus sabe depois.

Os irmãos de Elóy, por exemplo, chamavam-se Luiza Jocelina (ou Josephina) da Cunha, João Caetano de Paula e Procópio Theolino de Paula. O Cunha vinha de longe também, la de Portugal e da historia do Castelo de Arnóia, e estava intimamente ligado aos Braga. A esposa de Francisco Rodrigues da Cunha, neta como ele da matrona Bernardina Caetana, era chamada em diferentes documentos de Anna Helena, Anna Olinta Olóia, Anna Olina de São José. O nome Oloia, que devia ser em realidade Olaya como a santa das Astúrias tida em alta estima naquele tempo, era nome já repetido na família - em Anna Olaya, filha de Bernardina Caetana falecida criança -. Catolicos fervorosos, se orgulhavam de terem gerações de religiosos na família.

Em todo caso, fora esta mistura de sobrenomes que são muitos e amaranhados, o que sei de Donana é pouco e esse pouco se deixa desvendar continuamente através das histórias de Dona Júlia, negra forte que revejo em memória sempre na cozinha da casa de minha avó, perto do fogo e com o ferro antigo e grande de passar roupas na mão. Pois a história de Dona Júlia era parte da história da casa grande, estando ela na família à muito tempo, vindas suas raizes lá dos tempos dos escravos, tempos de maldades, assombros e fantasmas. Era pois era nesse meio que comandava Donana, filha do Coronel Oliveira e de Sinhá Ignácia Cassiana.
Assim, Anna Cândida casou-se com Elóy, que era filho de sua tia Dª Umbelina, a bela Umbelina. Dos filhos de Anna Cândida dois casariam-se com suas primas-irmãs, filhas elas da irmã de Elóy, Luiza Josephina; um deles foi meu avô Antônio, casado com Milota.

Muitas vertentes correram lado à lado na história das mulheres da família, parece mesmo que muitas tinham todas as bondades e maldades do mundo em si. Família cheia de Donanas, esta aqui faria parte das mulheres fortes, como sua prima-cunhada Dª Luiza Josephina da Cunha. Donana tinha o rosto forte, decidido e muita inteligencia. Dotada de uma sensibilidade excepcional, praticava uma medicina à base de ervas e conhecia muita coisa sobre o mundo do além, dialogando e resolvendo os problemas de mortos e vivos; suas fotos deixam transparecer um rosto decidido, mesmo duro, quase de concreto, uma força moral absoluta. Não sei se vem dela ou antes dela essa característica que uma boa parte da família têm de olhar o mundo espiritual como se não houvesse algum limite, sem sonhos idílicos, com uma grande força moral. Seu filho, Jesus de Oliveira, tinha os mesmos traços de uma moral íntegra e exigente. Já João era poeta.

Um dia, nos tempos findos de 1876, o pai de Donana recebeu na Fazenda Rio do Peixe uma carta vinda de um primo seu, o coronel João Caetano Rodrigues, filho de Felício Rodrigues de Paula. A carta dizia que muito lhe agradaria de casar um de seus filhos à uma das filhas do Coronel Antonio. Ouvindo a leitura em alta voz que seu pai fazia à sua mãe, a pequena Donana que se encontrava em outra sala brincando debaixo de uma mesa, se colocou na frente dos pais e disse firmemente: "Sou eu que irei me casar com o primo! "Quatorze anos depois, Elóy ainda moço viria ao Rio do Peixe para conhecer os tios e para surpresa geral apaixonou-se por Anna que correspondeu, casando-se algum tempo depois, concretizando a premonição.

O fim da vida de Donana foi no Sítio Califórnia, perto de Olaria em Minas Gerais; sítio que tinha a sua sede num velho casarão cheio de cômodos e que diziam assombrado: passos invisíveis subiam as escadas, sombras andavam nos corredores, barulhos de correntes nos muros, cães fantasmas se evaporavam nas porteiras, vultos gigantescos cruzavam os jardins. Foi assim minha infância. Todos os fantasmas dos tempos de Anna permaneciam ainda na minha memória, mesmo se eu nunca cruzei o seu olhar. Dona Júlia se encarregava de fazê-lo quando me deixou esta cicatriz na alma cheia de estórias grudadas e contadas à luz do fogão de lenha da cozinha de minha avó.

E assim, eles, fantasmas silenciosos pedintes de atenção e emoção, deixavam coisas, fatos, duvidas... Imediatamente após o casamento de meus avós, uma força estranha instalou-se na casa. Meu avo, 25 anos de vida, cheio de ânsias e paixão, não conseguia portanto se aproximar de minha avó. Ao contar à sua mãe Donana as coisas estranhas que ocorriam, ela lhe revelaria a razão depois de ter-se reunido com seus amigos invisíveis : uma mulher, pertencente à uma vida passada de meu avô tinha jurado que ele não teria outra esposa nem mesmo em outra vida. Assim, depois de conversar com o espírito da mulher, Anna conseguiu um pouco de paz para seu filho, mas, segundo os olhares alarmantes e as frases ditas em sussurros, esse espírito de mulher plainou muito tempo na família e até mesmo durante minha adolescência ela aparecia aqui e là, suas formas ficando de mais em mais cadavéricas. Até que eu cresci, fui para longe e as asas do pássaro da noite desceram sobre a minha memória, esqueci de todos estes fantasmas guardados nos álbuns de meu bisavô e dos rostos daquelas crianças mortas, coisa lúgubre e triste, lembrança teimosa que é nada mais que continuação do sofrimento e de sua exaltação em imagens, assim como o Cristo na cruz.

Olhando as fotos e ouvindo as histórias, parece-me uma constante o fato de que Donana era ciente do seu valor. Dignidade explícita mas silenciosa, profunda, sem alardes nem seduções. Imagino que ela se fazia respeitar pela sua própria presença. Quem saberá um dia o que foi a vida de Donana? Só o silêncio de suas fotos deixam transparecer essa dignidade tão furiosa.
Envelhecendo, ela ia ficando de mais em mais a cara do filho Jesus, o jornalista Jesus de Oliveira. O que escondia o rosto de Anna? Nascida em Conceição de Ibitipoca, em 1868, ela conheceu a opulência dos tempos dos barões e nos seus 71 anos de vida muitas revoluções presenciou. Mas ela tinha o rosto de uma pessoa prática, pés na terra! E isso até o dia 17 de junho de 1939, quando exalou seu último suspiro no Sítio California, longe do fausto de sua infância, mas rodeada de amor e de um respeito imensos.

Seus filhos foram: José Delpídio de Oliveira, Maria Jocelina (falecida quando criança), Umbelina da Cunha, Antonio Carlos Rodrigues de Oliveira, meu avô, Jesus de Oliveira Rodrigues, João Caetano de Paula Rodrigues, Maria Josephina e Maria Umbelina (falecidas quando criança), Inácia da Cunha Braga, Carmelita da Cunha, Laura da Cunha Braga.

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