Writing, Flying and Huevos Revueltos

August 20, 2006

Blogs portugueses

Está caindo um aguaceiro descomunal lá fora e isso faz aflorar em mim aquela nostalgia dos momentos tranquilos e profundos que vêm sempre, ou quase sempre, acompanhados de uma florissante energia creativa. Gosto destes momentos. Assim como gosto de ler os blogs portugueses. E eu estava lendo um mesmo neste momento quando pensei que vivo deixando p/ depois a oportunidade de dizer aqui o quanto eu admiro os blogs portugueses que encontro na rede, pois na minha opinião, é em definitivo o conjunto dos blogs mais interessantes com os quais nos deparamos nestas esquinas virtuais, sobretudo se falamos de cultura em geral, arte contemporânea e literatura em particular, sobretudo literatura. Em uma palavra, cultura informativa de boa qualidade.

Pessoalmente, eu vejo uma poesia imensa na expressão escrita portuguesa e, muitas vezes, essa característica me faz pensar à Guimarães Rosa e à região do Gerais baiano. Morei nesta região e sei do que falo, e sei também que o palavreado de Guimarães Rosa era característico desta região antes da chegada da rede Globo, palavras só encontradas no dicionário e utilizadas poeticamente e de forma específica.

Enfim, nós brasileiros perdemos muita coisa ignorando, e muitas vezes desprezando, a cultura portuguesa. A cultura e os indivíduos. Digo isso porque como é de conhecimento geral, existe no brasileiro um culto à uma pretensa ignorância portuguesa. Isso é muito triste porque deixa os brasileiros atarracados à uma incapacidade de ir buscar, seriamente, prazer e trocas intelectuais com nossos ... nossos o quê? Bom, a gente trata os portugueses como se fossem nossos irmãos desconhecidos e abandonados, só não sabemos se são mais velhos ou mais jovens do que nós... mas em todo caso, deixados num cantinho da despensa p/ utilização em caso de urgência.

Enfim, eu estava lendo agora um que é de uma leitura tão agradável quanto informativa. Olhem um trecho:
"É quase impossível que quem tenha tanta coisa a dizer, diga alguma coisa de jeito. E vem isto a propósito de Juan Rulfo, um fotógrafo e escritor mexicano, que só há pouco descobri nos cafundós dos armários imensos. Ao invés dos industriais da escrita e da novela deste mundo, Juan Rulfo, discreto funcionário público do estado mexicano, com uma vida fantástica e atribulada como poucos, tinha uma única história a contar. Uma só coisa a dizer. Escreveu um livro em 1955, publicou-o e nunca mais escreveu romance nenhum, até falecer em 1986. O que tinha a dizer, disse-o ali e nunca mais abriu a boca. O seu único livro, “Pedro Páramo” é um livro fabuloso. Uma obra prima do Realismo Mágico, mas anterior a qualquer das obras do Gabriel Garcia Marquez ou do Miguel Angel Astúrias. De Pedro Páramo, uma obra pequena com pouco mais de 100 páginas, disse Borges: "Pedro Páramo es una de las mejores novelas de las literaturas de lengua hispánica, y aun de toda la literatura"Uma vez perguntaram a Juan Rulfo porque não escreveu mais nenhum romance, porquê o filho único. Respondeu, que o que tinha a dizer, disse-o ali ".


O blog em questão é TAPORNUMPORCO.

Mas tem mais outros como eu já disse e tranquilamente vou falando deles.



K.
Wings: Writing, Flying and Huevos Revueltos
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