Writing, Flying and Huevos Revueltos

November 27, 2005

Para ele, as responsáveis da tragédia da sua vida, eram as mulheres, e pior ainda, as feministas

O texto bem mais à baixo, eu tinha escrito à partir de leituras e reflexões sobre a tragédia que aconteceu em 06 de dezembro de 1989 na Escola Politécnica de Montreal. Nesta data, eu estava na frente da televisão amamentando a minha filha quando quase morri de susto - meu marido era professor na Politécnica e ainda não tinha chegado em casa-. Eu assisti o drama, praticamente ao vivo, pela televisão. Só que ninguém entendia ainda que era um crime sexista, o número e a identidade das vítimas sendo ainda ignorados.
Semana passada soube da "Campanha de 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, criada pelo Centro Global para a Liderança da Mulher em 1991 e que inclui um conjunto de ações e manifestações públicas pelo fim da violência contra as mulheres. A data começa em 25 de novembro, dia proclamado pelas Nações Unidas como Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher. O período também inclui outras datas significativas como o 6 de Dezembro, que marca o aniversário do Massacre de Montreal.
Lembrei-me que no Canadá, depois do massacre da Politécnica, 06 de dezembro foi escolhido para fortalecer a luta contraa violência sexista. Então decidi traduzir o texto p/ o francês e postar no dia 06. Mas aí a Pat deixou um comentário no meu blog sobre o meu post do dia 25, e eu fui lá dar uma olhada no blog dela e encontrei este texto que traduz uma das coisas que eu queria dizer enquanto escrevia. Então decidi de colocar o meu texto aí em baixo em português, e que é uma parte da minha opinião sobre certos atos sexistas masculinos.
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Depois dos anos 60, as mulheres do estado do Quebeque, no Canadá, têm ocupado importantes cargos profissionais e estudos em áreas tradicionalmente ocupadas por homens. Nas décadas de 70 e 80, houve um aumento considerável do número de mulheres inscritas na Escola Politécnica, o núcleo de engenharia da Universidade de Montréal. Infelizmente, alguns homens se sentiram prejudicados com os novos papéis e oportunidades que as mulheres conseguiram alcançar em todos estes anos. Um destes homens era Marc Lépine, um rapaz de 25 anos com uma história de violência familiar na qual ele e sua mãe eram as vítimas do pai.

Lépine tinha procurado se juntar às forças armadas canadenses, mas foi rejeitado. Tinha estudado também para a admissão na Escola Politécnica, mas não foi aceito -- responsabilizando as políticas de ações positivas promovidas por feministas e simpatizantes. No dia 6 de dezembro de 1989, ele entrou na Politécnica e matou 14 mulheres jovens, e feriu gravemente 13 outras. Todas estudantes em engenharia. Depois, ele se matou, deixando uma nota de suicídio na qual constava uma virulenta mostra de seu ódio às mulheres.

De fato, ele não odiava as mulheres, mas detestava a idéia que elas estivessem deixando de ser, na vida real, o que ele esperava que elas fossem. Desiludido com todo o espaço que elas estavam ocupando na sociedade, furioso porque elas não podiam mais corresponder com a imagem que ele tinha se fabricado do que “deveria ser uma mulher”.

Lépine, com este ato, radicalizou o comportamento controlador de alguns homens que se sentem ameaçados pelas realizações femininas e cujos atos descrevem exatamente o que Lépine sentia : ódio. Ódio porque eles estão perdendo o contrôle sobre a vida e o destino delas, não só das “suas” mulheres, mas das mulheres de forma geral. E quando eles não as matam, eles usam e abusam de toda forma de violência, mesmo as mais sutis, para tentar reter este contrôle.

O problema é que este tipo de homem aprendeu à ocupar um espaço social e existencial em função do contrôle que ele indiretamente tem sobre as mulheres. O verdadeiro contrôle se dá através dos jogos de poder resultantes da imagem de hegemonia que o elemento masculino alimenta dentro da sociedade, e que tem como resultado o reconhecimento social desta desigualdade, à saber, a pretendida superioridade masculina.
Ora, um belo dia este protótipo de homem acorda e descobre que a coisa não se passa mais assim. Ele começa a ficar nervoso e desamparado. Para acalmá-lo, as mulheres têm que mostrar submissão face ao pretenso poder superior de sua masculinidade.

Reconhecer que uma mulher é mais inteligente e capaz do que ele se julga, se transforma em algo terrível, e ele perde totalmente todo senso de identidade. Pior ainda é reconhecer que este ser que a sociedade deveria julgar inferior, segundo suas crenças, reussiu lá aonde ele não conseguiu. Aí, ele se sente pior que um vira-lata. Mas, é claro, a tragédia de Lépine é mais complicada porque tem o agravante da violência que ele e a mãe já sofriam do pai.

2 comments:

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Un peu de retenu, SVP! LOL :))