Pronto, jurei p/ mim mesma que não quero mais ouvir falar de Copa. Cansei. O divertido é que os italianos, como os brasileiros, transformam tudo em oportunidade p/ riso. Então, agora pegaram o Zidane p/ santo; dêm uma olhada neste joguinho e dêm suas cabeçadas também. É só pegar o Zidane com o mouse.
Sabiam que até hoje 4 jogadores receberam cartão vermelho em decisão de Copa do Mundo de Futebol? E curiosamente, o último jogador a receber cartão vermelho em uma decisão antes de Zidane tinha sido um francês, Marcel Desailly, em 1998, quando jogavam e ganhavam contra o Brasil. A outra final a registrar cartões vermelhos foi na Itália, em 1990 e os expulsos foram os argentinos Pedro Monzón e Gustavo Dezotti na derrota para a Alemanha.
Zidane tem tanta fama de brigar em campo, que o cantor Jean-Louis Murat disse: "ninguém sabe se Zidane é um anjo ou um demônio; ele sorri como Santa Teresa e faz careta como um serial killer."
Umazinha está me fazendo rir até agora: domingo, a gente foi festejar na Petite Italie. Eu, toda bronzeada saindo p/ a festa no bairro italiano -que aliás foi um carnaval de arromba no meio da rua e estava bótimo-, a minha vizinha veio indignada comentar comigo que "a máfia comprou o árbitro p/ ele dar cartão vermelho p/ o Zidane! ". Eu fiquei assim boquiaberta e sem saber o que responder e ri. E acho que deu p/ ela perceber que achei sua opinião ridícula porque ri com gosto e sem querer, com escárnio. Ela me olhou meia que abalada, como se levasse uns segundinhos à mais p/ entender - acho até que desabotoôu a blusa-, franziu a testa, levantou os peitos que esmagavam a barriga, prendeu a respiração e virou uma fúria daquelas mitológicas. Aí, com bom humor e toda contente porque eu estava mesmo torcendo pela Itália, respondi inocente achando que a evidência da coisa deixaria a mulher suficientemente abalada p/ ela deixar de jogar frustação em cima de mim: "De tudo quanto é forma, o time francês de francês mesmo só tinha o reserva do goleiro...".
Bom, a frase deu resultado pela metade porque durante um instante fugidio ela gaguejou, parou p/ pensar, afundou ainda mais na cadeira da varanda e finalmente subiu nos tamancos toda alvoroçada e respondeu num francês cheio de falta de classe: "'stie de game... ils ont joué pour la France, tabernac!" (tradução mais ou menos literal: Droga de jogo... eles jogaram pela França, desgraça!).
Aí, euzinha, que não me dou por vencida [e ego quando enflama, enflama; mesmo se tento acabar com ele com toda meditação que posso...] ri mais uma vez mas agora com um pequeno sorriso no canto da boca, aquele gênero sou muito intelectual p/ ficar discutindo besteira. E nisso, o marido dela, sentado ao lado da dita cuja, começou a perceber que a conversa estava esquentando, e foi aí quando ele começou à mudar de assunto que eu acrescentei, rápido, porque estava já começando a gostar da discusão: "Não minha senhora, eles jogaram por dinheiro! Se fosse p/ cada um defender sua cultura com futebol, eles jogariam p/ a Algéria e p/ a Martinica, por exemplo. Nesta história de copa, com a equipe que foi escalada, a França só fornece a grana e o racismo pois hoje mesmo estava uma discussão danada entre franceses sobre a validade de um time que segundo eles não representa em nada os "franceses" como eles mesmo dizem. E o pior é que na discussão está claro que a cor do Zidane, como dos outros jogadores, é um problema p/ eles. Porque se a senhora não sabe, Zidane é considerado negro lá e ser negro p os racistas é uma indignidade, assim como é todo imigrante. Nao sao todos os franceses nao, mas pela grande quantidade das opinioes, tem muitos que pensam assim la por aquelas bandas. Vá na internet e a senhora vai achar uma porção de listas de discussão em francês sobre o assunto. Na França, não é raro que p empregos eles exijam que a pessoa seja "française de souche" ( "francesa de origem"). Escolhem as pessoas da mesma forma como escolhem vinhos, com origem controlada. Esta história de "SOUCHE" é importantíssimo p/ franceses. Agora, estes mesmos franceses que não me venham com esta história toda de orgulho nacional, isso é hiprocrisia. E o Zidane não precisa da máfia p/ se enervar não. Ele foi menino de gueto. E se emputeceu foi porque tanto ele quanto seus colegas de equipe estão conscientes desta discriminação. Não tem nada à ver com o italiano e nem com a máfia. Argelino, na França, p/ valer alguma coisa tem que levar a França a ser campeã do mundo, coisa que um francês "de souche" nunca foi capaz de fazer (nem sei se é verdade, mas eu so queria brigar... quer dizer, o eguinho aqui presente). E p completar, embora eu admire o Zidane, ele foi grosso, muito grosso, foi envergonhadamente grosso."
Quer dizer, eu não falei tudo isso assim com esta facilidade escrita, não. Nem de uma vez porque ela ficou gritando, dando uma de ofendida. Depois eu fiquei com um pouco de vergonha, mas não arrependida porque não estou inventando nada. E hoje a mulher estava uma pérola comigo, me dando bom dia e rindo toda marota.
Acho que ela pensa que toda brasileira é feiticeira. Fiquei até com pena!
Ela, a mujer, é argentina. Nascida e criada na Argentina e nunca colocou os pés na França, mas se colocasse e se fosse morar em Marselha, acho que viveria num gueto parecido com o que vivia o Zizou!
Nota: Em 1998, quando a França se sacrou campeã mundial graças aos seus imigrantes, meus amigos de origem outra que francesa e que moram na França ficaram achando que o racismo iria acabar, que o francês iria finalmente reconhecer o valor deles e que eles tinham muito à oferecer ao país. Quando acabou a euforia, tudo voltou à ser como antes, mesmo racismo, mesma falta de respeito, mesma agressividade.
Sabiam que até hoje 4 jogadores receberam cartão vermelho em decisão de Copa do Mundo de Futebol? E curiosamente, o último jogador a receber cartão vermelho em uma decisão antes de Zidane tinha sido um francês, Marcel Desailly, em 1998, quando jogavam e ganhavam contra o Brasil. A outra final a registrar cartões vermelhos foi na Itália, em 1990 e os expulsos foram os argentinos Pedro Monzón e Gustavo Dezotti na derrota para a Alemanha.
Zidane tem tanta fama de brigar em campo, que o cantor Jean-Louis Murat disse: "ninguém sabe se Zidane é um anjo ou um demônio; ele sorri como Santa Teresa e faz careta como um serial killer."
Umazinha está me fazendo rir até agora: domingo, a gente foi festejar na Petite Italie. Eu, toda bronzeada saindo p/ a festa no bairro italiano -que aliás foi um carnaval de arromba no meio da rua e estava bótimo-, a minha vizinha veio indignada comentar comigo que "a máfia comprou o árbitro p/ ele dar cartão vermelho p/ o Zidane! ". Eu fiquei assim boquiaberta e sem saber o que responder e ri. E acho que deu p/ ela perceber que achei sua opinião ridícula porque ri com gosto e sem querer, com escárnio. Ela me olhou meia que abalada, como se levasse uns segundinhos à mais p/ entender - acho até que desabotoôu a blusa-, franziu a testa, levantou os peitos que esmagavam a barriga, prendeu a respiração e virou uma fúria daquelas mitológicas. Aí, com bom humor e toda contente porque eu estava mesmo torcendo pela Itália, respondi inocente achando que a evidência da coisa deixaria a mulher suficientemente abalada p/ ela deixar de jogar frustação em cima de mim: "De tudo quanto é forma, o time francês de francês mesmo só tinha o reserva do goleiro...".
Bom, a frase deu resultado pela metade porque durante um instante fugidio ela gaguejou, parou p/ pensar, afundou ainda mais na cadeira da varanda e finalmente subiu nos tamancos toda alvoroçada e respondeu num francês cheio de falta de classe: "'stie de game... ils ont joué pour la France, tabernac!" (tradução mais ou menos literal: Droga de jogo... eles jogaram pela França, desgraça!).
Aí, euzinha, que não me dou por vencida [e ego quando enflama, enflama; mesmo se tento acabar com ele com toda meditação que posso...] ri mais uma vez mas agora com um pequeno sorriso no canto da boca, aquele gênero sou muito intelectual p/ ficar discutindo besteira. E nisso, o marido dela, sentado ao lado da dita cuja, começou a perceber que a conversa estava esquentando, e foi aí quando ele começou à mudar de assunto que eu acrescentei, rápido, porque estava já começando a gostar da discusão: "Não minha senhora, eles jogaram por dinheiro! Se fosse p/ cada um defender sua cultura com futebol, eles jogariam p/ a Algéria e p/ a Martinica, por exemplo. Nesta história de copa, com a equipe que foi escalada, a França só fornece a grana e o racismo pois hoje mesmo estava uma discussão danada entre franceses sobre a validade de um time que segundo eles não representa em nada os "franceses" como eles mesmo dizem. E o pior é que na discussão está claro que a cor do Zidane, como dos outros jogadores, é um problema p/ eles. Porque se a senhora não sabe, Zidane é considerado negro lá e ser negro p os racistas é uma indignidade, assim como é todo imigrante. Nao sao todos os franceses nao, mas pela grande quantidade das opinioes, tem muitos que pensam assim la por aquelas bandas. Vá na internet e a senhora vai achar uma porção de listas de discussão em francês sobre o assunto. Na França, não é raro que p empregos eles exijam que a pessoa seja "française de souche" ( "francesa de origem"). Escolhem as pessoas da mesma forma como escolhem vinhos, com origem controlada. Esta história de "SOUCHE" é importantíssimo p/ franceses. Agora, estes mesmos franceses que não me venham com esta história toda de orgulho nacional, isso é hiprocrisia. E o Zidane não precisa da máfia p/ se enervar não. Ele foi menino de gueto. E se emputeceu foi porque tanto ele quanto seus colegas de equipe estão conscientes desta discriminação. Não tem nada à ver com o italiano e nem com a máfia. Argelino, na França, p/ valer alguma coisa tem que levar a França a ser campeã do mundo, coisa que um francês "de souche" nunca foi capaz de fazer (nem sei se é verdade, mas eu so queria brigar... quer dizer, o eguinho aqui presente). E p completar, embora eu admire o Zidane, ele foi grosso, muito grosso, foi envergonhadamente grosso."
Quer dizer, eu não falei tudo isso assim com esta facilidade escrita, não. Nem de uma vez porque ela ficou gritando, dando uma de ofendida. Depois eu fiquei com um pouco de vergonha, mas não arrependida porque não estou inventando nada. E hoje a mulher estava uma pérola comigo, me dando bom dia e rindo toda marota.
Acho que ela pensa que toda brasileira é feiticeira. Fiquei até com pena!
Ela, a mujer, é argentina. Nascida e criada na Argentina e nunca colocou os pés na França, mas se colocasse e se fosse morar em Marselha, acho que viveria num gueto parecido com o que vivia o Zizou!
Nota: Em 1998, quando a França se sacrou campeã mundial graças aos seus imigrantes, meus amigos de origem outra que francesa e que moram na França ficaram achando que o racismo iria acabar, que o francês iria finalmente reconhecer o valor deles e que eles tinham muito à oferecer ao país. Quando acabou a euforia, tudo voltou à ser como antes, mesmo racismo, mesma falta de respeito, mesma agressividade.