Para encurtar a história, coloco aqui o que eu preenchi na época:
Entrevista. Seja um pesonagem do Identidades
Pra começar, descreve um pouco de ti. O que fazes, profissão, trabalho, interesse.
Antes de ler o poema, eu já tinha ido p/os EUA várias vezes de férias e lá conheci vários europeus que viviam me convidando para conhecer seus países. Na mesma época, alguns amigos meus foram morar na europa, aí a vontade aumentou, né?! Trabalhando no Banco do Brasil, eu estava profissionalmente descontente porque a minha ambição era desenvolver um trabalho com artes; mas a verdadeira razão é que eu sempre gostei de viajar, conhecer outros povos, outras culturas, sempre fui curiosa por tudo, e estava também bastante desiludida com a situação política e econômica do país. Um dia eu olhei ao meu redor e vi que nada do que eu vivia me interessava. Foi aí que li o poema e logo soube que ele estava me falando, foi uma certeza absoluta pois senti que os espíritos do caminho me faziam realmente inúmeros sinais. Aí eu pedi por 2 vezes uma licença para ficar 1 ano viajando fora do Brasil, o que era permitido no banco, mas o gerente da agência aonde eu trabalhava e que tinha o apelido de Vaca Brava, não me deu autorização. Depois de esperar em vão pela autorização e cansada de só ficar no país presa à um emprego que não me oferecia mais alguma satisfação pessoal, eu pedi demissão. Imediatamente peguei um avião p/ Orlando porque já tinha um emprego em vista lá e queria juntar grana para ir para a Europa. De lá, fui passar o natal em Montreal, no Canadá e o passeio que deveria durar 15 dias, dura até hoje. Fui ficando por aqui porque eu adoro esta cidade. À partir do Canadá, fui conhecendo o mundo, fiz faculdade de Artes Visuais e mestrado em Comunicações, obtive várias subvenções do Conselho das Artes do Canadá e do Quebec e de outros orgãos governamentais para desenvolver pesquisas com artes e novas tecnologias, recebi prêmios internacionais por meus trabalhos e vivo muito feliz por aqui com minha família; também adoro escrever e no momento estou trabalhando numa série de contos, e tenho um blog no http://montrealswinds.blogspot.com
Vim p/ o Canadá só p/ visitar uma amiga, mas fui ficando porque queria viver numa sociedade menos machista que a brasileira e ao princípio foi isso que me seduziu em Montreal, pois sendo mulher eu sempre fui muito mais livre aqui.
Tranqüilidade e segurança (poder andar sózinha no meio da rua à qualquer hora do dia ou da noite sem me preocupar), diversidade cultural, fácil acesso à cultura e educação, objetividade, pragmatismo. De neve caindo, das cores do outono, da beleza da primavera. Dos meus amigos.
De sete meses de frio (três daria p/encarar numa boa), do pouco senso de civilidade da população, da introspecção das pessoas, da xenofobia, do individualismo que pode também ser uma coisa boa dependendo do contexto. Da repressão e ridiculização da sensualidade feminina.
Do sol sempre presente, do bom humor, do interesse geral por outros povos e culturas, da abertura de espírito, da inteligência, da civilidade, da riqueza cultural, da espontainedade, humanismo e dinamismo, da faculdade de improvisação, de cocada, de acarajé, de muito sorriso, de sensualidade, de forró.
Da violência, da insegurança, do machismo, da ignorância das classes abastadas, dos resquícios da escravidão, do abuso de poder e petulância com pessoas que estão em posição socialmente inferior, do fato de que muita gente considera trabalho manual degradante, da falta de respeito endêmica por empregadas domésticas, da superficialidade, da falta de cultura e presunção de uma certa burguesia que passa o tempo assistindo televisão. Do ufanismo. Da mania de julgar os outros pelas aparências. Do complexo de inferioridade perante o estrangeiro. Da zoada futebolística dominical -ainda bem que o maridão aqui não é disso, cruz credo!-. Tenho também a mais completa incapacidade de respeitar gente que chega atrasada à um compromisso, pior ainda se é profissional, neste caso está definitivamente riscado da minha agenda. Ah, ia esquecendo, e do pedantismo de certos intelectuais que usam e abusam de um linguajar arcaico, a velha mania de falar difícil e não dizer nada.
Não sei. Não tenho planos definitivos.
Tem gente que usa palitinho de dente, o que eu detesto, me dá um nojo danado e infelizmente esse é um costume bem brasileiro, dá vontade de jogar a pessoa (homens na maioria dos casos), os palitinhos e a bandeira do Brasil pela janela. Mas isso eu só citei por me lembrar, prq aqui em casa não entra este negócio... rsos.... Mas
Não conheço nenhuma definição do que é ser brasileiro porque acho que isso não existe, a tal definição. Esta idéia está muito ligada à um monte de clichês, como tem gente que pensa que ser brasileiro é ser espontâneo, ou solidário, ou sambar bem. Peguei a solidariedade, que dizem que é do brasileiro, e pinguei um pouco do bom senso canadense. Mesmo se conheço uma porção de canadense sem bom senso e muito brasileiro egoísta. Fiz a mesma coisa com a espontaneidade, mas respeito o espaço de cada um e defendo o meu. Sempre fui independente, gosto de gente, mas não gosto de viver em bando. Não vou dizer que brasileiro é entrão, mas também não direi que canadense é frio. Isso tudo é clichê. Cada um tem sua própria personalidade, enriquecida com as experiências acumuladas e influênciada pelo meio ambiente (educação, classe social, clima, etc.). Tudo isso influencia o comportamento. Um exemplo: eu sambo mal, não gosto de churrasco - sou vegetariana- nem de futebol, nunca chego atrasada em lugar nenhum. Conheço muito “não-brasileiros” que sambam que é uma beleza, só vivem em festas de arromba e estão em todas, de fio dental, plumas e paetés.
Conviver e me fusionar com outras culturas é uma riqueza inestimável, e isso não afeta a minha identidade básica, isso me enriquece culturalmente e espiritualmente porque me ajuda a compreender que o ser humano é muito parecido mesmo pertencendo à culturas diferentes. Brasileira eu serei sempre prq acho que somos direcionados pela primeira infância. Claro que eu aprendi uma porção de coisas, perdi algumas ilusões e ganhei outras, mas a minha base continua a mesma. O que talvez tenha mudado é a percepção que as pessoas têm de mim, porque elas sabem que eu saí do país e que convivo com outras culturas. Mas finalmente, eu sempre me considerei uma pessoa sem grandes apegos e muita curiosidade, mas nunca fui de me catalogar nem catalogar os outros. Decidi que sairia do país já desde os 6 anos de idade porque na época alguém me disse que na Inglaterra existia galinha de duas cabeças e eu sempre quiz ver isso de perto. Acho que nasci cidadã do mundo mesmo se a educação que me deu uma base e que ajudou a formar a minha identidade foi uma educação brasileira. Eu vivo muito bem em Montreal, como vivo no México, como vivi em Salvador, como viveria em Londres. Só não gosto de Paris p/ viver, só p/ passear, como também não gosto de viver em Niterói, por exemplo, ou Toronto ou Atlanta. Acho que tenho uma base muito profunda e não é mudando de lugar que ela será afetada.
Resumo a coisa assim: adoro um certo tipo de comida e posso comer isso em qualquer lugar porque sei aonde encontrar e como preparar a comida que gosto e sobretudo, não dependo de ninguém p/ cozinhar p/ mim. A minha comida é deliciosa porque eu quiz aprender a fazê-la deliciosa, e é um prazer compartilhar a mesma. Se não encontro o que quero, como outra coisa parecida, mas nunca fico com fome. Adoro restaurantes de qualidade e não me importo de pagar caro p/ ter o que quero, mas isso não é essencial. O essencial é que eu sei do que gosto e do que não gosto, dos meus limites, das minhas capacidades, e de quem eu sou. Entendeu?
Um grande abraço à todos!
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Un peu de retenu, SVP! LOL :))