March 02, 2007
Já que o assunto é família, vou falar dela que tem na minha cabeça uma imagem de matrona gorda, baixinha, simpática e dura ao mesmo tempo, e preta.... preta como um tição, peituda, engraçada, pele lisa e simpática, abraço gostoso, cheia de dengo e riso. Tudo o que não tive. Porque o que ficou na lembrança do nome, foi mesmo a coisa dela, inflexível memória. O pai era de família nobre holandesa, a mãe também porque eram primos, e o nome está em livros de história como Savoie, a parte afrancisada, mas em flamengo é mais complicado e cheio de van e der. Em todo caso, isso de nome carrega importância básica porque cria laços e obrigações. E dura até hoje!
Depois
Primeiro eu fechei os olhos, depois eu me sentei no vazio da noite e fiquei lá, agachada, esperando.
Fui abrindo devagar as persianas. Cheio o ar daquele sentir mofado de coisa esquecida, e no meu nariz. Como poderia adivinhar eu que a solidão dele pesava tanto em mim que no vazio das palavras que ele não sabia exprimir? E era culpa minha?, eu pensei. E pensando continuava acubranhada. Tanta miséria humana cheia na sola do sapato... e tudo por causa do reitor, ele que disse que vaca tinha uma bosta que não fedia. Ele, o ignorante.
Ontem, a velha me deu um sorriso destentado. Mais um. E eu fiquei com nojo e vergonha de mim mesma porque não quiz me sentar na frente dela e daqueles dentes faltantes e que iam crescendo em proporções desumanas tão grandes que eu que era antes tão cortês comecei a evitá-la por causa do dente, do podre e dos outros, os faltantes. Perco a fome e a vontade de comer olhando a boca dela que não para de sorrir e de me dizer que trabalhou toda a sua vida desde pequena nas casas mais ou menos de Lisboa. Isso na juventude dela, que nasceu em Santarém, terra que era também do meu 7 avô, o mesmo que era um Marques da Fonseca de prenome Luís e que se casou com uma Bessa.
Eu
fui entrando com cuidado, olhando muros e medos atravessando as frestas da janela da sala. E o sol. A mão negra dela segurou a persiana encardida e ele acordou, ranzinza, me olhando eu, cheia de silêncio de manhã e a fome de profundezas que eu queria roubar dos olhos dele, querendo também uma pitada de atenção mais prolongada que essa face disforme de acordar tão apressado e descontente. E eu tremento do anseio de mim mesma, olhei pra frente e pra dentro, entrando, entrando, entrando sem fim lá num cantinho que eu fiquei segura.
Até o final de tudo.
Ouvindo Nick Cave
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Un peu de retenu, SVP! LOL :))