Writing, Flying and Huevos Revueltos

October 08, 2006

Teoria da adaptação genética transgeracional proposta pelo professor Marcus Pembrey

Sobre um assunto relacionado, mas no ramo da psicologia transgeracional, leiam a psico-genealogia.


Sou fã de documentários, sobretudo históricos e científicos. Hoje, assisti à um realmente apaixonante de Nigel Paterson sobre genética transgeracional: "Ghost In Your Genes"(Fantasmas nos seus Genes).

O assunto é o seguinte: novas pesquisas sobre a hereditariedade em relação ao meio ambiente levam à teoria da genética transgeracional proposta por Marcus Pembrey, que é professor de genética pediátrica no Instituto da Saúde da Criança, na Universidade de Londres e professor na Universidade de Bristol, aonde ele é diretor de genética no ALSPAC (European Longitudinal Study of Pregnancy and Childhood); foi presidente da Sociedade Européia de Genética Humana. Mais sobre ele.

As últimas evidências nesta pesquisa publicada pela Universidade de Bristol em colaboração com a Universidade de Umeå, na Suécia, sugerem que a hereditariedade genética é influenciada por eventos históricos; em outra, as experiências da vida de nossos antepassados influenciam na formação de nosso material genético.

Num pequeno vilage sueco, chamado Överkalix, existe evidências p/ confirmar esta teoria. Nos registros de nascimentos e mortes dos arquivos históricos da pequena e isolada comunidade, encontrou-se indícios de que períodos críticos de fome na vida dos antepassados pode ter afetado a esperança de vida dos descendentes em 3 ou 4 gerações. Estes estudos foram feitos no início pelo pesquisador sueco Lars Olov Bygren, professor do Departamento de Medicina Social da Universidade de Umeå, na Suécia, que contactou o professor Marcus Pembrey depois de saber de suas pesquisas sobre o genoma humano e continuaram o trabalho em colaboração. Os pesquisadores encontraram assim resultados que sugerem a importância dos cromossomos X e Y: · A disponibilidade de alimentação dos antepassados masculinos é relacionado com a taxa de mortalidade dos homens; · A disponibilidade de alimentação dos antepassados femininos é relacionado com a taxa de mortalidade das mulheres.

Assim, entramos na área da epigenética - influências escondidas nos genes - que podem afetar cada aspecto de nossas vidas (a epigenética investiga a informação contida no DNA, a qual é transmitida na divisão celular, mas que não constitui parte da seqüência do DNA).

Convencionalmente, os cientistas acreditam que nossa biologia depende de dois fatores: os genes (DNA) que nós herdamos de nossos pais e as influências do meio-ambiente tais nossa alimentação, estilo de vida, poluição, etc. Os estudos de Marcus Pembrey, porém, indicam que além do processo de seleção natural que se certifica que a raça humana, em várias gerações, se adapte às mudanças do meio-ambiente, existe evidências de um outro mecanismo que não tinha sido considerado até então: experiências traumatizantes na vida dos nossos antepassados são captadas durante a formação dos óvulos e do esperma, afetando o material genético que vai ser transmitido aos descendentes. Na mulher, como os óvulos são formados ainda no ventre materno, estas experiências são captadas bastante cedo na sua vida; nos homens começa desde os 9 até os 12 anos, mais ou menos. Os descendentes masculinos dos homens que sofreram períodos traumatizantes de fome, por exemplo durante a formação do esperma, viverão à longo prazo um período muito mais longo do que outros homens cujos antepassados diretos não passaram pela mesma experiência (os genes à longo prazo vão se adaptando às condições pelas quais tiveram que passar os antepassados, mesmo se a pessoa ela-mesma nunca passou por tais experiências); o mesmo ocorrerá com as descendentes diretas das mulheres que sofreram esta experiência durante a formação dos óvulos. A teoria do professor Pembrey sugere que esta resposta do sistema é um ajustamento de nosso material genético aos eventos traumatizantes pelos quais passaram nossos antepassados.

Rachel Yehuda é uma especialista em condições que causam um estresse postraumático. Ela é doutora em neuroquímica e neuroendocrinologia e mestre em psicologia biológica e neuroquímica da Universidade do Massachusetts, EUA; tem postdoutorado em psiquiatria biológica pela Escola de Medicina de Yale, e é também professora e pesquisadora da Escola de Medicina Monte Sinai, de Nova Yorque, aonde estudou os efeitos do holocausto nos descedentes das vítimas da segunda grande guerra. Rachel Yehuda começou à estudar os efeitos do estresse em um grupo de mulheres que presenciaram de perto os eventos do 11 de setembro 2001 e que estavam grávidas. Os resultados do estudo, produzido juntamente com Jonathan Seckl, um médico de Edimburgo, Irlanda, sugere que os efeitos do estresse podem ser transmitidos às gerações futuras através de material genético.

Pesquisas na Universidade do Estado de Washington, sugerem que os efeitos tóxicos - como a exposição aos fungicidas ou pesticides - e que causam mudanças biológicas nos ratos, persistem nos genes, ao menos durante quatro gerações.

O professor Wolf Reik, do Instituto Babraham de Cambridge, depois de vários anos, estuda o que chamam de "fantasmas ocultos" em ciências genéticas. Manipulando embriões de ratos de laboratório, ele chegou à conclusão que só o fato de manipular os embriões já era suficiente p/ 'desligar' ou 'ligar' os interruptores genéticos. Ao mesmo tempo, é sabido que crianças concebidas in vitro são 3 0u 4 vezes mais propensas à desenvolver certas doenças genéticas do que crianças que não são concebidas in vitro. Mas não se conhecia uma razão provável p/ isso. Agora, tudo tende à indicar que seja devido a estes 'interruptores' genéticos. Os trabalhos do professor Reik mostram que estes interruptores eles-mesmos podem ser herdados dos antepassados. Isso significa que existe uma 'memória' de um evento que pode ser transmitido em gerações e um simples evento ambiental pode 'ligar' ou 'desligar' algum material genético, e esta mudança mesma se ela for provisória em nossa biologia, pode ser herdada de forma permanente por nossos descendentes. A idéia de que existe uma espécie de interruptor genético que é capaz de ativar e desativar os genes e que este estado de ativação ou desativação pode ele-mesmo ser transmitido geneticamente em estado permanente, é algo novo em biologia.

Em resumo, durante a formação dos óvulos e do esperma, as experiências do meio-ambiente programam a atividade dos genes resultando na activação ou no desaticação de certas necessidades do organismo, o que eles chamam de "interruptores genéticos" que são ativados ou desativados. Assim, o comportamento dos genes são transgeracionais, quer dizer, as experiências dos antepassados podem afetar o desenvolvimento, a saúde e a sobrevivência das gerações futuras.

Existem ainda muitas questões no ar, mas em todo caso, estes trabalhos estão ao centro de um novo direcionamento no paradigma do pensamento científico. A maneira como várias doenças são vistas, assim como as origens destas doenças, a importância do estilo de vida e dos relacionamentos familiares. Enfim, os eventos que uma pessoa vive, a maneira como ela os vive ou o que ela sofre em decorrência destes eventos, não afeta sómente sua própria vida e a vida dos seus contemporâneos, mas pode determinar a saúde física, emocional e mental de seus descendentes em várias gerações. Segundo o professor Marcus Pembrey, "Cada um de nós é o guardião de seu próprio genoma".


K.
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