O danado do Isaías já tinha me perguntado, assim que comecei o meu blog, porque é que eu estava escrevendo em inglês e francês, além do português. : -é frime?
Expliquei que minha intenção era fazer o blog p/ os amigos que moram no Brasil, na Europa e na América do Norte. Além é claro de praticar o meu inglês e voltar a escrever em português. mas aí a insistente falta de feedback dos amigos que não eram brasileiros começou à me cansar e fui ficando só em português mesmo. Eu não decidi nada, alguém me perguntava algo, surgia uma conversação e eu colocova no blog, só que a conversação era na maioria das vezes em português.
Hoje eu estava fazendo uma daquelas arrumações no meu KGB quando encontrei a raquette de tênis já tão velhinha do meu marido e o meu álbum de fotos antigas. Aí, eu vi a foto de um namorado baiano lindo, surfista e que era muito complexado e vivia dizendo p/ todo mundo que jogava tênis muito bem; isso quando eu morava em Salvador; e eu nem ligava porque o menino era muito gostoso. Esse negócio de se fazer interessante em aparência, o francês chama de frime.
Embora este seja um conceito muito comum na França, sobretudo em Paris, ou em países de língua latina ou nos países do leste (acho que por causa do comunismo e da pobreza resultante), é algo que acontece raramente no Canadá, à não ser com populações latinas, sobretudo italianos.
Um dia destes conheci uma menina recém-chegada do Rio que virou p/ mim e depois de perguntar, sonâmbula, aonde eu morava, exclamou acordando da sua apatia: "Ah, vc mora no Leblon de Montreal?!" ...toda feliz, como se ela fosse morar comigo. Mas eu não sabia que esta era a imagem do meu bairro p/ os brasileiros - ou cariocas, sei lá-.
Essa atitude dela não é bem de la frime, mas faz parte do universo. É bairrismo. Teve uma outra que eu conheci na pista ciclável e que era namorada de um amigão meu, ela, recém chegada do Brasil e a estória com ela foi assim: já que estávamos lá em plena pista, decidimos fazer um passeio de bicicleta juntos até uma região um pouco distante de Montreal. Eu semprei andei quilômetros e quilômetros por dia de bicicleta, mas tinha acabado de ter neném, e depois de algum tempo inativa eu tentava voltar à minha forma. Estava na época meio gordinha, embora só tenha engordado 10 k. em toda a gravidez, muito peituda, cara cansada pelas noitadas sem dormir, e descabelada de vento e felicidade. Mas eu tenho uma bicicleta velha que se chama Anastácia, The Forbiden Princess! Todos os meus amigos conhecem a Anastácia e eu herdei ela do meu grande amigo Ademir, que muito tristemente faleceu deixando lembranças e entre elas, a minha velha e alquebrada Anastácia. Mas ela era, naquele tempo, ainda relativamente jovem, só que como eu sempre usei e abusei da minha princesa, ela foi se desgastando. Mas quando a namorada do meu amigo me viu na velha Anastácia, acho que ficou meio que decepcionada porque a pobrezinha da menina não sabia que não se deve ter bicicleta nova em Montreal e que, ao contrário, é até cool ter bicicleta velha mesmo, e sobretudo, ninguém tem preocupação com a imagem material que se está refletindo. Isso é coisa de cultura que se sente pobre e inferiorizada, mas embora eu faça parte desta cultura brasileira, esse sempre foi um conceito estranho p/ mim, talvez por ter vivido muito tempo em Salvador e neste tempo frequentado pessoas totalmente destituídas desta praga.
Voltando à menina da pista ciclável, a danada ficou me esnobando o tempo todo -não vou fazer uma lista porque, primeiro, esqueci os detalhes e segundo, é longo dizer as impressões que me ficaram-. Naquelas alturas já estávamos lá longe e eu achando que tinha que ignorar a bela p/ não deixar o meu amigo sem graça e ter que escolher entre nós duas. Isso até o ponto aonde ele, que estava tomando a mesma atitude que eu -se fazendo de desentendido- deixou ela de lado e ficou o tempo todo comigo. A menina ficou então fula e foi embora, só nos encontrando lá em Lachine porque ela não conhecia nada mesmo e nem falava francês. Ali, ela estava totalmente dependente de nós, até que voltamos p/ Montreal e quando chegamos, eles subiram até o meu apartamento porque tinham que usar o banheiro. Mas quando a menina entra na minha casa e dá de cara com o piano de cauda -que nem era meu mas do meu marido-, ela arregala os olhos e eu já senti a mudança da energia se amenizando; ela ficando mais à vontade senta-se e já começa à rir e quer agradar, olha p/ todos os quadros e me pergunta se sou artista... e vai chegando perto de um à um me fazendo perguntas sobre a técnica, etc. Depois começa à dizer que adorou a minha casa, que adorou os meus trabalhos e finalmente, que me adorou!
Isso já é promiscuidade! Mas sou capaz de suportar tudo se for necessário, até afundar o meu ego na banheira, afundo numa boa, mas fiquei conhecendo um pouco mais de mim e da minha capacidade de abnegação. De imediato eu virei uma pessoa interessante e ela quiz o meu telefone e virou candidata à amiguinha. Quando meu marido chegou com o saco dele de golf, aí então foi um xodó (aqui qualquer um joga tênis, golf e frequenta casino - ela adoraria visitar um casino!-). ... acho casino um lugar muito triste pois só dá gigolô, fumante inveterado, puta, gente infeliz e viciada, novo rico, japonês, texano e peruas, todos sentados entupindo as mesas de dinheiro ou perdendo o que tem-.